Prof.
Jorge Teixeira da Cunha
Não
é só com dinheiro que se muda o mundo
O
mundo muda-se com a criação de atitudes e de comportamentos
sensatos
O
dicionário de Oxford acaba de escolher a expressão “emergência
climática” como palavra do ano.
Essa
opção tem que ver com a popularidade e com o futuro de uma
preocupação.
Por
nossa parte, podemos perguntar o que tem a dizer a reflexão crente
sobre um assunto que ganhou foros de primeira importância, tanto da
opinião pública como da política e da universidade.
Parece
que a emergência climática é um problema evidente.
De
facto, dizem-nos que o planeta está em perigo, que as coisas nunca
foram como são agora, do ponto de vista das mudanças do clima e
assim por diante.
À
vista desta suposta evidência só haveria duas opções: ou o
negacionismo ou o alinhamento sem questionar.
A
reflexão crente não costuma alinhar de uma forma tão crédula na
última moda que ocupa as cabeças bem pensantes.
Por
isso, perguntamos: temos elementos científicos suficientemente
sólidos para falar de uma emergência climática, como se o mundo
estivesse para colapsar nos próximos tempos?
Cremos
que é dever da razão parar para pensar, antes de clamar aos quatro
ventos sobre matérias sobre que não temos elementos ainda
suficientes.
Isso
por algumas razões.
Em
primeiro, por uma razão científica.
De
facto, não temos registos sobre o clima com amplitude suficiente
para tirar conclusões.
Dizem-nos
que temos queimado carbono numa proporção sem precedentes na
história.
Mas
perguntamos: quem nos garante isso?
A
Terra não terá sofrido hecatombes no passado semelhantes ao que
acontece nos últimos dois séculos?
Dois
séculos comparados com a idade da Terra é coisa pouca para tirar
conclusões.
Em
segundo lugar, parece que devemos reflectir desde o horizonte da
teologia.
E
a pergunta é: a humanidade tem poder para destruir o planeta?
Pensar
desse modo não constitui uma clara exorbitação do poder do ser
humano?
Quando
a humanidade cá chegou, o mundo já cá andava há muitos milhares
de milhões de anos.
Por
isso, de ponto de vista da fé cristã, o mais sensato é ouvir a
interpelação que foi feita a Job: “Onde estavas tu quando foi
lançado o fundamento do Universo?” (Job 38, 4).
A
nosso ver, é necessário moderar a falsa sensação de poder que é
dado à humanidade pela ciência e técnica moderna.
Esse
poder não é tão grande como parece à primeira vista.
A
ciência e a tecnologia de hoje dão à humanidade um delírio de
omnipotência que não bom conselheiro para pensar sensatamente o
mundo.
Isso
é, em boa medida, a tentação apocalíptica de todos os tempos.
Mas
então, perguntamos em terceiro lugar, não é necessário fazer
nada?
Pelo
contrário, é necessário fazer muito.
Desde
logo, é necessário livrar-se de falsas ideias sobre os poderes
humanos, pois a humanidade não tem poder sobre a origem do mundo.
Esse
poder pertence a Deus.
Por
isso, o que é pedido à humanidade é que se converta a uma
espiritualidade ecológica e a uma ética da sobriedade.
A
fé cristã é um óptimo caminho.
Cremos
que é esse o sentido da luta do Papa Francisco: a partir do
crescimento na fé no verdadeiro Deus, converter a razão e o estilo
de vida.
Não
é só com dinheiro que se muda o mundo.
O
mundo muda-se com a criação de atitudes e de comportamentos
sensatos.
Fonte:
Editorial da Voz Portucalense, 28Nov2019
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