O
Papa Francisco na Homilia da Eucaristia celebrada hoje em Tóquio na
presença de mais de 50 mil pessoas
Esta
manhã, o Santo Padre teve um encontro com as vítimas do tríplice
desastre de Março de 2011: o terramoto, o tsunami e o acidente
nuclear, deslocando-se posteriormente ao Palácio Imperial em Tóquio
para um encontro com o imperador do Japão Naruhito.
No
encontro com os jovens na Catedral de Santa Maria em Tóquio o Papa
Francisco, num discurso que focalizado na cultura do encontro,
referiu que “importante não é tanto concentrar-me e questionar-me
por que vivo, como sobretudo para quem vivo”.
Abordando
o tema de como crescer para descobrir a nossa identidade, bondade e
beleza interior, explicou: “Para sermos felizes, devemos pedir
ajuda aos outros (…) sair de nós mesmos e ir ter com os outros,
especialmente os mais necessitados”.
A
Eucaristia (transcrevemos abaixo a Homilia) celebrada em latim pelo
Dom da Vida Humana, no Estádio Tóquio Dome, teve a particularidade
de a primeira leitura ter sido feita em português.
O
encontro com as Autoridades e o Corpo Diplomático no Edifício
governamental "Kantei" em Tóquio foi o último compromisso
nesta Segunda-feira.
O
Santo Padre referiu que “A
dignidade humana deve estar no centro de toda a actividade
social, económica e política; é necessário promover a
solidariedade entre gerações e deve-se, em todos os níveis da vida
comunitária, demonstrar preocupação por quantos são esquecidos e
excluídos.
Penso
particularmente nos jovens, que muitas vezes se sentem acabrunhados
perante as dificuldades do crescimento, e também nos idosos e nas
pessoas abandonadas que sofrem de isolamento.
Sabemos
que, em última análise, o nível de civilização duma nação ou
dum povo não se mede pelo seu poder económico, mas pela atenção
que dedica aos necessitados e também pela capacidade de se tornarem
fecundos e promotores de vida.”
VIAGEM
APOSTÓLICA A DO PAPA FRANCISCO À TAILÂNDIA E JAPÃO
(19
- 26 DE NOVEMBRO DE 2019)
SANTA
MISSA
HOMILIA
DO SANTO PADRE
Tóquio
Dome
Segunda-feira,
25 de Novembro de 2019
O
Evangelho que ouvimos faz parte do primeiro grande discurso de Jesus;
é conhecido como o «Sermão da Montanha» e descreve-nos a beleza
do caminho que somos convidados a percorrer.
Segundo
a Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a
conhecer: «sobe ao encontro do Senhor» (Ex 24, 1), disse Deus a
Moisés.
Uma
montanha cujo cimo se alcança, não com a força de vontade nem com
o carreirismo, mas apenas com a escuta atenta, paciente e delicada do
Mestre no meio das encruzilhadas do caminho.
O
cimo transforma-se em planura para nos dar uma perspectiva sempre
nova de tudo o que nos rodeia, centrada na compaixão do Pai.
Em
Jesus, encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o
caminho que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os
cálculos conhecidos; n’Ele encontramos uma vida nova, onde se
experimenta a liberdade de nos sentirmos filhos amados.
Mas
estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial
pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do
círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando
concentramos toda a nossa atenção e as nossas melhores energias na
busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único
critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir quem
somos e quanto valemos.
Medida
essa, que pouco a pouco nos torna impermeáveis ou insensíveis às
coisas importantes, levando o coração a palpitar pelas coisas
supérfluas ou efémeras.
Como
oprime e enreda a alma a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser
produzido, conquistado e controlado!
Os
jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com eles)
que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente
desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que
permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e
da sua própria existência.
A
casa, a escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um
apoia e ajuda os outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela
excessiva competição na busca do lucro e da eficiência.
Muitas
pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas
demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o
equilíbrio.
Ressoam,
como bálsamo reparador, as palavras do Senhor que convidam a não
nos inquietarmos, mas a termos confiança.
Insiste
nisso três vezes: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o
dia de amanhã (cf. Mt 6, 25.31.34).
Não
se trata de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de
nos desleixarmos relativamente às nossas ocupações e
responsabilidades diárias; antes pelo contrário, é um desafio a
abrirmos as nossas prioridades para um horizonte de sentido mais
amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma direcção:
«Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais
se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).
O
Senhor não nos diz que as necessidades básicas, como alimento e
roupa, não sejam importantes; mas convida-nos a repensar as nossas
opções diárias para não acabarmos entalados ou fechados na busca
do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida.
As
atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou
benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade
individual, subtil mas realmente conseguem apenas tornar-nos
infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma
sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana.
O
oposto de um «eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um
«nós» partilhado, celebrado e comunicado (cf. Papa Francisco,
Catequese, Audiência Geral de 13/II/2019).
Este
convite do Senhor lembra-nos que «precisamos de reconhecer
alegremente que a nossa realidade é fruto dum dom, e aceitar também
a nossa liberdade como graça.
Isto
é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo,
fruto da sua própria originalidade e liberdade» (Gaudete et
exsultate, 55).
Por
isso, na primeira Leitura, a Bíblia lembra-nos como o nosso mundo,
cheio de vida e beleza, seja antes de tudo um dom maravilhoso do
Criador que nos precede: «Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a
muito boa» (Gn 1, 31); beleza e bondade oferecidas para podermos
também compartilhá-las e oferecê-las aos outros, não como
senhores ou proprietários, mas como participantes dum mesmo sonho
criador.
«O
cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com
a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da
fidelidade aos outros» (Laudato si’, 70).
Perante
isto, como comunidade cristã somos convidados a proteger toda a vida
e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela
gratuitidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um
estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta «com
toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as
suas contradições e insignificâncias» (XXXIV Jornada Mundial da
Juventude, Panamá, Vigília, 26/I/2019).
Somos
convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de
acolher «tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem
destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma
pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de
amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se
encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor? Assim fez
Jesus: abraçou o leproso, o cego e o paralítico, abraçou o fariseu
e o pecador. Abraçou o ladrão na cruz, abraçou e perdoou até
àqueles que O estavam a crucificar» (Ibidem).
O
anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como
comunidade, que nos tornemos um hospital de campanha preparado para
curar as feridas e sempre oferecer um caminho de reconciliação e
perdão.
Com
efeito, para o cristão, a única medida possível com que julgar
cada pessoa e situação é a da compaixão do Pai por todos os seus
filhos.
Unidos
ao Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e
mulheres de boa vontade, e também com as pessoas de convicções
religiosas diferentes, podemos tornar-nos fermento profético duma
sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a vida.
Encontro
do Papa com as vítimas do tríplice desastre de Março de 2011.
25Nov2019
– Viagem Apostólica ao Japão, momentos significativos do dia.
Fontes:
Santa Sé, Notícias do Vaticano
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