Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

O ADEUS AO PAPA EMÉRITO BENTO XVI

 



Milhares de fiéis reuniram-se

para o funeral de Bento XVI

   


Bento XVI, Papa entre 2005 e 2013, faleceu a 31 de Dezembro de 2022, aos 95 anos de idade; o sucessor de São João Paulo II foi o primeiro pontífice a renunciar ao pontificado desde Gregório XII, em 1415.

Na noite desta Quarta-feira, depois de estar no centro da peregrinação ininterrupta de mais de 200.000 pessoas à Basílica do Vaticano durante três dias, o corpo de Bento XVI foi encerrado em um caixão de cipreste, no qual foram colocados o pálio, moedas e medalhas do pontificado e o 'Rogito', um texto guardado num cilindro de metal que recorda os traços marcantes da vida e do ministério do Papa emérito, desde o seu nascimento até aos seus últimos dias. O texto do 'Rogito' foi lido pelo mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, monsenhor Diego Ravelli.

Esta manhã, após a Oração do Terço e da Missa Exequial presidida pelo Papa Francisco, o caixão de cipreste foi colocado num revestimento de zinco e depois num caixão de madeira sendo tumulado nas Grutas do Vaticano.

Estima-se que cerca de 50 mil pessoas participaram do funeral, entre as quais inúmeras autoridades e Chefes de Estado. Celebraram com o Papa Francisco, além do Cardeal-decano Giovanni Battista Re no altar, mais de 120 Cardeais, 400 Bispos e quase quatro mil sacerdotes, incluindo representantes portugueses – os Cardeais D. Manuel Clemente, D. António Marto e D. José Tolentino Mendonça, bem como os bispos D. José Ornelas (presidente da CEP), D. Carlos Azevedo (delegado do Comité Pontifício das Ciências Históricas), D. Américo Aguiar (presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023) e vários clérigos ao serviço da Santa Sé.

Destaques da Missa Exequial:



Oração do Terço e da Missa Exequial:



MISSA EXEQUIAL

PELO SUMO PONTÍFICE EMÉRITO BENTO XVI

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Praça São Pedro, Quinta-feira, 5 de Janeiro de 2023

«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» ( Lc 23, 46): são as últimas palavras que o Senhor pronunciou na cruz; quase poderíamos dizer, o seu último suspiro, capaz de confirmar aquilo que caracterizou toda a sua vida: uma entrega contínua nas mãos de seu Pai. Mãos de perdão e compaixão, de cura e misericórdia, mãos de unção e bênção, que O impeliram a entregar-Se também nas mãos dos seus irmãos. Aberto às pendências que ia encontrando ao longo do caminho, o Senhor deixou-Se cinzelar pela vontade do Pai, carregando aos ombros todas as consequências e dificuldades do Evangelho até ao ponto de ver as suas mãos chagadas por amor. «Olha as minhas mãos»: disse Ele a Tomé ( Jo 20, 27); e o mesmo diz a cada um de nós: «Olha as minhas mãos». Mãos chagadas que se nos estendem numa oferta incessante a fim de conhecermos o amor que Deus tem por nós e acreditarmos nele (cf. 1 Jo 4, 16) [Cf. Bento XVI, Carta enc. Deus caritas est, 1.].

«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito» é o convite e o programa de vida que inspira e pretende modelar, como um oleiro (cf. Is 29, 16), o coração do pastor até que palpitem nele os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cf. Flp 2, 5): dedicação agradecida, dedicação orante e dedicação sustenta pela consolação do Espírito.

Dedicação agradecida, feita de serviço ao Senhor e ao seu Povo que nasce da certeza de se ter recebido um dom totalmente gratuito. «Pertences a eles; pertences-Me a Mim»: sussurra o Senhor. «Tu estás sob a protecção das minhas mãos, sob a protecção do meu coração. (…) Permanece no espaço das minhas mãos e dá-Me as tuas» [Idem, Homilia na Missa Crismal (13/IV/2006)]. Trata-se da condescendência de Deus e da sua proximidade, capaz de Se colocar nas mãos frágeis dos seus discípulos para poderem alimentar o seu povo, dizendo com Ele: tomai e comei; tomai e bebei! Isto é o meu corpo oferecido por vós (cf. Lc 22, 19). A synkatabasis total de Deus.

Dedicação orante, que se plasma e aperfeiçoa silenciosamente por entre as encruzilhadas e contradições, que o pastor deve enfrentar (cf. 1 Ped 1, 6-7), e o esperançado convite a apascentar o rebanho (cf. Jo 21, 17). Como o Mestre, carrega sobre os ombros a canseira da intercessão e o desgaste da unção pelo seu povo, especialmente onde a bondade é contrastada e os irmãos vêem ameaçada a sua dignidade (cf. Heb 5, 7-9). Neste encontro de intercessão, o Senhor vai gerando a mansidão capaz de compreender, acolher, esperar e apostar para além das incompreensões que isso possa suscitar. Fecundidade invisível e incontrolável, que nasce de saber em que mãos temos posta a nossa confiança (cf. 2 Tm 1, 12). Confiança orante e adoradora, capaz de moldar as acções do pastor e adaptar o seu coração e as suas decisões aos tempos de Deus (cf. Jo 21, 18): «Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença» [Idem, Homilia na Missa do Início do Pontificado (24/IV/2005)].

E também dedicação sustentada pela consolação do Espírito, que sempre o precede na missão e transparece na paixão de comunicar a beleza e a alegria do Evangelho (cf. Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 57), no testemunho fecundo daqueles que, como Maria, permanecem de muitos modos ao pé da cruz, naquela paz dolorosa mas robusta que não agride nem escraviza; e na esperança obstinada mas paciente de que o Senhor há de cumprir a promessa feita aos nossos pais e à sua descendência para sempre (cf. Lc 1, 54-55).

Também nós, firmemente unidos às últimas palavras do Senhor e ao testemunho que marcou a sua vida, queremos, como comunidade eclesial, seguir as suas pegadas e confiar o nosso irmão às mãos do Pai: que estas mãos misericordiosas encontrem a sua lâmpada acesa com o azeite do Evangelho, que ele difundiu e testemunhou durante a sua vida (cf. Mt 25, 6-7).

No final da Regra Pastoral, São Gregório Magno convidava e exortava um amigo a prestar-lhe esta companhia espiritual: «No meio das tempestades da minha vida, conforta-me a confiança de que tu manter-me-ás à superfície sobre a tábua das tuas orações e, se o peso das minhas culpas me abater e humilhar, emprestar-me-ás a ajuda dos teus méritos para me elevar». É a consciência do pastor que não pode carregar sozinho aquilo que, na realidade, nunca poderia sustentar sozinho e, por isso, sabe abandonar-se à oração e ao cuidado do povo que lhe está confiado [Cf. ibidem]. É o Povo fiel de Deus que, congregado, acompanha e confia a vida de quem foi seu pastor. Como as mulheres do Evangelho no sepulcro, estamos aqui com o perfume da gratidão e o unguento da esperança para lhe provar, uma vez mais, o amor que não se perde; queremos fazê-lo com a mesma unção, sabedoria, delicadeza e dedicação que ele soube dispensar ao longo dos anos. Queremos dizer juntos: «Pai, nas tuas mãos entregamos o seu espírito».

Bento, fiel amigo do Esposo, que a tua alegria seja perfeita escutando definitivamente e para sempre a sua voz!


Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano; Agência Ecclesia


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