Entre a alegria e as feridas
da RD do Congo e do Sudão do Sul
No passado Domingo 29Jan, depois da oração do Ângelus o Papa Francisco falou sobre a sua próxima Viagem Apostólica a África:
“Depois de amanhã partirei para uma Viagem Apostólica à República Democrática do Congo e à República do Sudão do Sul. Enquanto agradeço às Autoridades civis e aos Bispos locais pelos convites e pelos preparativos para estas visitas, saúdo com carinho às queridas populações que me esperam.
Aquelas terras, situadas no centro do grande continente africano, são provadas por longos conflitos: a República Democrática do Congo sofre, especialmente no lado Oriental do país, pelos confrontos armados e exploração; enquanto o Sudão do Sul, dilacerado por anos de guerra, não vê a hora que terminem as violências que obrigam tantas pessoas a viverem deslocadas e em condições de grandes dificuldades.
Ao Sudão do Sul, chegarei com o Arcebispo de Cantuária e o Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia: assim faremos juntos, como irmãos, uma Peregrinação Ecuménica de Paz, para invocar de Deus e do homem o fim das hostilidades e a reconciliação”.
Programada para Julho de 2022, mas adiada devido aos problemas de saúde relacionados com seu joelho, vai realizar-se desde hoje, Terça-feira 31 de Janeiro, a Domingo 5 de Fevereiro.
É a 40ª viagem internacional do Papa Francisco, o primeiro Papa em 37 anos a retornar à República Democrática do Congo e o primeiro a tocar o solo do Sudão do Sul - o país mais jovem do mundo desde a declaração de independência em 2011.
O Papa Francisco fará sete discursos em Kinshasa (RD do Congo) e cinco em Juba (Sudão do Sul). A Eucaristia do dia 1 de Fevereiro no aeroporto Kinshasa-Ndolo, celebrada segundo o rito zairense do Missal Romano, deverá ser um dos acontecimentos com mais participantes do pontificado. A área pode abrigar até um milhão e meio de pessoas - segundo a imprensa local, será este o número de presentes na celebração do Santo Padre. O palco onde a celebração será realizada é o maior já construído na República Democrática do Congo e está equipado com um elevador para permitir uma deslocação mais fácil do Papa. O coro que animará a Missa também está entre os maiores de todos os tempos: 700 pessoas.
Em Juba, a capital do Sudão do Sul, na margem oeste do Nilo Branco, o Papa vai juntar-se ao Primaz Anglicano Welby e ao Moderador Greenshield e terá um encontro com o Presidente Salva Kiir. É de referir o encontro, ou melhor, o abraço do Bispo de Roma, no Salão da Liberdade, com os grupos de deslocados internos, reunidos em vários campos muitas vezes nas bases das missões da ONU. "Mais de 2 milhões no país, 33 mil somente na área de Juba". Entre elas, as crianças de Bentiu, capital do Estado de Unity, flageladas por enchentes devastadoras e epidemias de cólera.
O Papa Francisco chegou a Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, debaixo de um calor de 33 graus, sendo acolhido ao som de tambores, aplausos e gritos de alegria das religiosas.
Numa cadeira de rodas, foi acompanhado desde o avião até ao pátio cerimonial onde foi saudado pelo primeiro-ministro congolês, Jean-Michel Sama, pela Guarda de Honra e por duas crianças que lhe ofereceram flores. Em seguida, o Papa Francisco e o primeiro-ministro dirigiram-se para a Sala VIP, onde teve a lugar a apresentação das delegações e um breve encontro.
No jardim do "Palais de la Nation", em Kinshasa, o Papa Francisco teve um encontro com as Autoridades, a Sociedade Civil e o Corpo Diplomático. Depois de agradecer a saudação do Presidente, o Papa Francisco iniciou seu discurso falando da beleza natural do país, é “como um continente no grande continente africano, parece que toda a terra respira”, porém, continuou, “se a geografia deste pulmão verde é tão rica e matizada, já a história não se mostrou igualmente generosa: atormentada pela guerra, a República Democrática do Congo continua a padecer”. “E enquanto vós, congoleses”, continuou o Papa Francisco, “lutais para salvaguardar a vossa dignidade e a vossa integridade territorial contra condenáveis tentativas de fragmentar o país, venho até junto de vós, em nome de Jesus, como um peregrino de reconciliação e de paz. Muito desejei estar aqui e, finalmente, venho trazer-vos a solidariedade, o afecto e a consolação de toda a Igreja e aprender com o vosso exemplo de paciência, de coragem e de luta”.
Servindo-se da imagem do diamante, uma imagem que bem simboliza a luminosa beleza desta terra, exortou os presentes:
“Coragem, irmão e irmã congoleses! Levanta-te, retoma nas mãos, como um diamante puríssimo, aquilo que és, a tua dignidade, a tua vocação de guardar na harmonia e na paz a casa que habitas. Revive o espírito do teu hino nacional, sonhando e pondo em prática as suas palavras: ‘Através dum trabalho duro, construiremos um país mais belo do que antes; em paz’.”
E sobre o colonialismo económico escravizador, “este país, largamente saqueado, não consegue beneficiar suficientemente dos seus recursos imensos: chegou-se ao paradoxo de os frutos da sua terra o tornarem ‘estrangeiro’ para os próprios habitantes. O veneno da ganância tornou os seus diamantes ensanguentados”. E disse:
“Tirem as mãos da República Democrática do Congo, tirem as mãos da África! Basta com este sufocar a África: não é uma mina para explorar, nem uma terra para saquear. Que a África seja protagonista do seu destino!”
“Não se deixem manipular nem comprar por quem quer manter o país na violência para o explorar e fazer negócios vergonhosos: isto só traz descrédito e vergonha, juntamente com morte e miséria.”
Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano
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