Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O OPOSTO DE UM "EU" ISOLADO SÓ PODE SER UM "NÓS" PARTILHADO




O Papa Francisco na Homilia da Eucaristia celebrada hoje em Tóquio na presença de mais de 50 mil pessoas
   
  
Esta manhã, o Santo Padre teve um encontro com as vítimas do tríplice desastre de Março de 2011: o terramoto, o tsunami e o acidente nuclear, deslocando-se posteriormente ao Palácio Imperial em Tóquio para um encontro com o imperador do Japão Naruhito.

No encontro com os jovens na Catedral de Santa Maria em Tóquio o Papa Francisco, num discurso que focalizado na cultura do encontro, referiu que “importante não é tanto concentrar-me e questionar-me por que vivo, como sobretudo para quem vivo”.
Abordando o tema de como crescer para descobrir a nossa identidade, bondade e beleza interior, explicou: “Para sermos felizes, devemos pedir ajuda aos outros (…) sair de nós mesmos e ir ter com os outros, especialmente os mais necessitados”.

A Eucaristia (transcrevemos abaixo a Homilia) celebrada em latim pelo Dom da Vida Humana, no Estádio Tóquio Dome, teve a particularidade de a primeira leitura ter sido feita em português.

O encontro com as Autoridades e o Corpo Diplomático no Edifício governamental "Kantei" em Tóquio foi o último compromisso nesta Segunda-feira.
O Santo Padre referiu que “A dignidade humana deve estar no centro de toda a actividade social, económica e política; é necessário promover a solidariedade entre gerações e deve-se, em todos os níveis da vida comunitária, demonstrar preocupação por quantos são esquecidos e excluídos.
Penso particularmente nos jovens, que muitas vezes se sentem acabrunhados perante as dificuldades do crescimento, e também nos idosos e nas pessoas abandonadas que sofrem de isolamento.
Sabemos que, em última análise, o nível de civilização duma nação ou dum povo não se mede pelo seu poder económico, mas pela atenção que dedica aos necessitados e também pela capacidade de se tornarem fecundos e promotores de vida.”




VIAGEM APOSTÓLICA A DO PAPA FRANCISCO À TAILÂNDIA E JAPÃO
(19 - 26 DE NOVEMBRO DE 2019)
SANTA MISSA
HOMILIA DO SANTO PADRE
Tóquio Dome
Segunda-feira, 25 de Novembro de 2019

O Evangelho que ouvimos faz parte do primeiro grande discurso de Jesus; é conhecido como o «Sermão da Montanha» e descreve-nos a beleza do caminho que somos convidados a percorrer.
Segundo a Bíblia, a montanha é o lugar onde Deus Se manifesta e dá a conhecer: «sobe ao encontro do Senhor» (Ex 24, 1), disse Deus a Moisés.
Uma montanha cujo cimo se alcança, não com a força de vontade nem com o carreirismo, mas apenas com a escuta atenta, paciente e delicada do Mestre no meio das encruzilhadas do caminho.
O cimo transforma-se em planura para nos dar uma perspectiva sempre nova de tudo o que nos rodeia, centrada na compaixão do Pai.
Em Jesus, encontramos o cimo do que significa ser humano e indica-nos o caminho que nos leva à plenitude capaz de ultrapassar todos os cálculos conhecidos; n’Ele encontramos uma vida nova, onde se experimenta a liberdade de nos sentirmos filhos amados.

Mas estamos cientes de que, ao longo do caminho, esta liberdade filial pode ver-se sufocada e enfraquecida, quando ficamos prisioneiros do círculo vicioso da ansiedade e da competição, ou quando concentramos toda a nossa atenção e as nossas melhores energias na busca obstinada e frenética de produtividade e consumismo como único critério para medir e avaliar as nossas opções ou definir quem somos e quanto valemos.
Medida essa, que pouco a pouco nos torna impermeáveis ou insensíveis às coisas importantes, levando o coração a palpitar pelas coisas supérfluas ou efémeras.
Como oprime e enreda a alma a ânsia gerada por pensar que tudo pode ser produzido, conquistado e controlado!

Os jovens fizeram-me notar esta manhã (no encontro que tive com eles) que, numa sociedade como o Japão com uma economia altamente desenvolvida, não são poucas as pessoas socialmente isoladas que permanecem à margem, incapazes de entender o significado da vida e da sua própria existência.
A casa, a escola e a comunidade, destinadas a ser lugares onde cada um apoia e ajuda os outros, estão a deteriorar-se cada vez mais pela excessiva competição na busca do lucro e da eficiência.
Muitas pessoas sentem-se confusas e inquietas, ficam sobrecarregadas pelas demasiadas exigências e preocupações que lhes tiram a paz e o equilíbrio.

Ressoam, como bálsamo reparador, as palavras do Senhor que convidam a não nos inquietarmos, mas a termos confiança.
Insiste nisso três vezes: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o dia de amanhã (cf. Mt 6, 25.31.34).
Não se trata de nos desinteressarmos do que sucede ao nosso redor nem de nos desleixarmos relativamente às nossas ocupações e responsabilidades diárias; antes pelo contrário, é um desafio a abrirmos as nossas prioridades para um horizonte de sentido mais amplo e, assim, criar espaço para olhar na mesma direcção: «Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo» (Mt 6, 33).

O Senhor não nos diz que as necessidades básicas, como alimento e roupa, não sejam importantes; mas convida-nos a repensar as nossas opções diárias para não acabarmos entalados ou fechados na busca do êxito a todo o custo, incluindo a custo da própria vida.
As atitudes mundanas que buscam e perseguem apenas o próprio lucro ou benefício neste mundo, e o egoísmo que pretende a felicidade individual, subtil mas realmente conseguem apenas tornar-nos infelizes e escravos, para além de dificultar o desenvolvimento duma sociedade verdadeiramente harmoniosa e humana.

O oposto de um «eu» isolado, fechado e até sufocado só pode ser um «nós» partilhado, celebrado e comunicado (cf. Papa Francisco, Catequese, Audiência Geral de 13/II/2019).
Este convite do Senhor lembra-nos que «precisamos de reconhecer alegremente que a nossa realidade é fruto dum dom, e aceitar também a nossa liberdade como graça.
Isto é difícil hoje, num mundo que julga possuir algo por si mesmo, fruto da sua própria originalidade e liberdade» (Gaudete et exsultate, 55).
Por isso, na primeira Leitura, a Bíblia lembra-nos como o nosso mundo, cheio de vida e beleza, seja antes de tudo um dom maravilhoso do Criador que nos precede: «Deus, vendo toda a sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1, 31); beleza e bondade oferecidas para podermos também compartilhá-las e oferecê-las aos outros, não como senhores ou proprietários, mas como participantes dum mesmo sonho criador.
«O cuidado autêntico da nossa própria vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros» (Laudato si’, 70).

Perante isto, como comunidade cristã somos convidados a proteger toda a vida e testemunhar, com sabedoria e coragem, um estilo marcado pela gratuitidade e compaixão, pela generosidade e a escuta simples, um estilo capaz de abraçar e receber a vida como se apresenta «com toda a sua fragilidade e pequenez e, muitas vezes, até com todas as suas contradições e insignificâncias» (XXXIV Jornada Mundial da Juventude, Panamá, Vigília, 26/I/2019).
Somos convidados a ser comunidade que desenvolva uma pedagogia capaz de acolher «tudo o que não é perfeito, tudo o que não é puro nem destilado, mas lá por isso não menos digno de amor. Por acaso uma pessoa portadora de deficiência, uma pessoa frágil não é digna de amor? (…) Uma pessoa, mesmo que seja estrangeira, tenha errado, se encontre doente ou numa prisão, não é digna de amor? Assim fez Jesus: abraçou o leproso, o cego e o paralítico, abraçou o fariseu e o pecador. Abraçou o ladrão na cruz, abraçou e perdoou até àqueles que O estavam a crucificar» (Ibidem).

O anúncio do Evangelho da Vida impele-nos e exige de nós, como comunidade, que nos tornemos um hospital de campanha preparado para curar as feridas e sempre oferecer um caminho de reconciliação e perdão.
Com efeito, para o cristão, a única medida possível com que julgar cada pessoa e situação é a da compaixão do Pai por todos os seus filhos.


Unidos ao Senhor, cooperando e dialogando sempre com todos os homens e mulheres de boa vontade, e também com as pessoas de convicções religiosas diferentes, podemos tornar-nos fermento profético duma sociedade que protege e cuida cada vez mais de toda a vida.



Encontro do Papa com as vítimas do tríplice desastre de Março de 2011.




25Nov2019 – Viagem Apostólica ao Japão, momentos significativos do dia.



Fontes: Santa Sé, Notícias do Vaticano

Sem comentários:

Enviar um comentário