Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

segunda-feira, 7 de março de 2016

O ZÉ

Diácono Joaquim Armindo

O Zé [nome fictício, que também pode ser a Zé] aparenta cerca de 23 anos de idade, ainda não trabalha, está desempregado.

Por isso o Zé, para não estar em casa a consumir os pais, ainda mais o Zé é sustentado por eles e pelos avós, arranjou um voluntariado.

Trabalhar, mas sem ganhar e ainda retirando o trabalho a outros.

Assim vai “indo a vida”, tornamo-nos todos “voluntários” e vivemos à custa dos pais e avós, se eles ainda tiverem algum rendimento e não estiverem também desempregados e em regime de “voluntariado”.

   
   
Estas questões do “voluntariado” para aqui e para ali, sem sabermos bem o porquê desse “voluntariado”, tem sido para mim motivo de reflexão.
Isso e os chamados “recibos verdes”.
Incomoda-me bastante este delírio sarcástico e inventivo de trabalho sem ganhar, isto é, sem ter dinheiro para pagar o que se come.
Já S. Paulo (2.ª carta ao Tessalonicenses 3,12), naquele tempo, chamava a atenção que todos deviam trabalhar e que quem não trabalhasse, não comesse.
Estava ele longe de saber que passados mais de dois mil anos, estaríamos nesta situação.

Existem mesmo empresas que vivem de estagiários, voluntários ou de recibos verdes, aliás como tenho vindo aqui a comentar.
Compreendo o papel de cada um destes estados.
O estagiário trabalha, aprende, ganhará menos ou nada, mas como fazendo parte de um início de carreira, não como uma forma de preencher um posto de trabalho, mas com estagiário sobre estagiário.
Também o voluntário se compreende.
Ou como fazendo parte, por tempo determinado, e não actividade principal na sua vida, de um projecto pessoal, ou, então, como desempenhando algumas tarefas inerentes ao seu processo de vida, como os voluntários para os sem-abrigo, nos hospitais ou outros, mas que não retira trabalho.
Os dos “recibos verdes” também se compreendem em algumas situações, como as dos profissionais liberais, mas nunca para o preenchimento de um lugar activo, sempre alvo de um “despedimento”, que não o chega a ser.

Estamos a falar de homens e mulheres, de rapazes e raparigas, que não têm trabalho certo, e que se diz “vai ser o normal”.
Falamos de pessoas que não podem ter a sua casa, não podem casar e muito menos ter filhos.
São os ditames de uma sociedade sem princípios, sem rumo e sem valores.
Esmaga os nossos jovens e até não jovens com invenções do que é o trabalho, certamente faminta de mais poder, que o dinheiro lhe concede.
Nada mais enganoso e infame.
Não conhecendo a dignidade humana e que retira tudo, até, vejam bem!, retirou o Domingo, como o Dia do Senhor, mesmo que este Senhor, também ao sétimo dia tenha descansado.
Se agora se perguntar se alguma das nossas paróquias, terá um Zé [nome fictício, que também pode ser a Zé], como voluntário?

Joaquim Armindo


Fonte: Voz Portucalense - 3 de Março de 2016


1 comentário:

  1. Porque o "ZÉ" também pode ser Maria, apetece fazer um pequeno comentário:
    Enquanto para uns só é possível trabalho não remunerado, para outros é permitido acumular remunerações de deputado e de administrador.
    Como alguém comentou no JN, "“Mais importante do que ser ministro é ser ex-ministro. Dificilmente a notoriedade e conhecimentos estabelecidos nos cargos de poder deixam de assegurar, no fim do mandato, um lugar de topo numa empresa qualquer.”"

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