Diácono
Joaquim
Armindo
O
Zé [nome fictício, que também pode ser a Zé] aparenta cerca de 23
anos de idade, ainda não trabalha, está desempregado.
Por
isso o Zé, para não estar em casa a consumir os pais, ainda mais o
Zé é sustentado por eles e pelos avós, arranjou um voluntariado.
Trabalhar,
mas sem ganhar e ainda retirando o trabalho a outros.
Assim
vai “indo a vida”, tornamo-nos todos “voluntários” e vivemos
à custa dos pais e avós, se eles ainda tiverem algum rendimento e
não estiverem também desempregados e em regime de “voluntariado”.
Estas
questões do “voluntariado” para aqui e para ali, sem sabermos
bem o porquê desse “voluntariado”, tem sido para mim motivo de
reflexão.
Isso
e os chamados “recibos verdes”.
Incomoda-me
bastante este delírio sarcástico e inventivo de trabalho sem
ganhar, isto é, sem ter dinheiro para pagar o que se come.
Já
S. Paulo (2.ª carta ao Tessalonicenses 3,12), naquele tempo, chamava
a atenção que todos deviam trabalhar e que quem não trabalhasse,
não comesse.
Estava
ele longe de saber que passados mais de dois mil anos, estaríamos
nesta situação.
Existem
mesmo empresas que vivem de estagiários, voluntários ou de recibos
verdes, aliás como tenho vindo aqui a comentar.
Compreendo
o papel de cada um destes estados.
O
estagiário trabalha, aprende, ganhará menos ou nada, mas como
fazendo parte de um início de carreira, não como uma forma de
preencher um posto de trabalho, mas com estagiário sobre estagiário.
Também
o voluntário se compreende.
Ou
como fazendo parte, por tempo determinado, e não actividade
principal na sua vida, de um projecto pessoal, ou, então, como
desempenhando algumas tarefas inerentes ao seu processo de vida, como
os voluntários para os sem-abrigo, nos hospitais ou outros, mas que
não retira trabalho.
Os
dos “recibos verdes” também se compreendem em algumas situações,
como as dos profissionais liberais, mas nunca para o preenchimento de
um lugar activo, sempre alvo de um “despedimento”, que não o
chega a ser.
Estamos
a falar de homens e mulheres, de rapazes e raparigas, que não têm
trabalho certo, e que se diz “vai ser o normal”.
Falamos
de pessoas que não podem ter a sua casa, não podem casar e muito
menos ter filhos.
São
os ditames de uma sociedade sem princípios, sem rumo e sem valores.
Esmaga
os nossos jovens e até não jovens com invenções do que é o
trabalho, certamente faminta de mais poder, que o dinheiro lhe
concede.
Nada
mais enganoso e infame.
Não
conhecendo a dignidade humana e que retira tudo, até, vejam bem!,
retirou o Domingo, como o Dia do Senhor, mesmo que este Senhor,
também ao sétimo dia tenha descansado.
Se
agora se perguntar se alguma das nossas paróquias, terá um Zé
[nome fictício, que também pode ser a Zé], como voluntário?
Joaquim
Armindo
Fonte:
Voz Portucalense - 3 de Março de 2016
Porque o "ZÉ" também pode ser Maria, apetece fazer um pequeno comentário:
ResponderEliminarEnquanto para uns só é possível trabalho não remunerado, para outros é permitido acumular remunerações de deputado e de administrador.
Como alguém comentou no JN, "“Mais importante do que ser ministro é ser ex-ministro. Dificilmente a notoriedade e conhecimentos estabelecidos nos cargos de poder deixam de assegurar, no fim do mandato, um lugar de topo numa empresa qualquer.”"