O
Papa Francisco efectuou os primeiros encontros em Mianmar
Antecipando
o encontro previsto para Quinta-feira, o Santo Padre encontrou-se na
manhã de ontem com o general birmanês Min Aung Hlaing, comandante
em Chefe dos Serviços de Defesa.
Durante
o encontro "falou-se sobre a grande responsabilidade das
autoridades do País neste momento de transição".
Hoje,
depois de presidir a celebração da missa na sede do Arcebispado, o
Papa Francisco teve um evento extra-oficial: o Pontífice recebeu 17
líderes das diferentes religiões presentes em Mianmar.
Tratou-se
de uma reunião para ressaltar o valor que o País atribui ao diálogo
inter-religioso – uma das finalidades desta 21ª Viagem Apostólica.
No
encontro de 40 minutos estiveram presentes líderes budistas,
hinduístas, muçulmanos, judeus, baptistas e anglicanos.
O
Papa sublinhou que hoje existe uma tendência mundial para a
uniformidade, a tornar tudo igual.
Mas
a paz está na harmonia das diferenças.
A
unidade não é uniformidade, cada um tem as suas riquezas para dar.
Depois
do almoço, no Centro Internacional de Congressos, com a presença da
Conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, realizou-se a cerimónia
oficial de boas-vindas e o encontro com as autoridades.
Nesta
ocasião, Francisco pronuncia o seu primeiro discurso em terras
birmanesas, ressaltando que "o árduo
processo de construção da paz e a reconciliação nacional só pode
avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos
direitos humanos".
Essa
justiça, segundo o Papa, deve brotar da sabedoria dos antigos que
sempre definiram a justiça como a vontade de reconhecer a cada um
aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram
como o fundamento da paz verdadeira e duradoura.
Referindo-se
ao imenso trabalho a ser realizado no âmbito da reconciliação e
integração nacional, Francisco recordou o papel privilegiado que
cabe as comunidades religiosas do Mianmar.
“As
diferenças religiosas não devem ser fonte de divisão e
dissidência, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da
tolerância e da sábia construção da nação”.
Sem
usar a palavra “Rohingya”, o Papa Francisco apelou ao diálogo e
à reconciliação.
VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MIANMAR E BANGLADESH
(26
DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)
ENCONTRO
COM AS AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS, COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O
CORPO DIPLOMÁTICO
DISCURSO
DO SANTO PADRE
Centro
Internacional de Congressos (Nay Pyi Taw)
Terça-feira,
28 de novembro de 2017
Senhora
Conselheira de Estado,
Ilustres
membros do Governo e Autoridades Civis,
Senhor
Cardeal, Veneráveis Irmãos no Episcopado,
Distintos
membros do Corpo Diplomático,
Senhoras
e Senhores!
Expresso
vivo reconhecimento pelo amável convite para visitar o Mianmar e
agradeço à Senhora Conselheira de Estado as suas cordiais palavras.
Estou
muito grato a todos aqueles que trabalharam incansavelmente para
tornar possível esta visita.
Venho
sobretudo para rezar com a pequena mas fervorosa comunidade católica
da nação, para a confirmar na fé e encorajá-la no esforço de
contribuir para o bem da nação.
Motivo
de contentamento é o facto de a minha visita se realizar depois do
estabelecimento formal das relações diplomáticas entre o Mianmar e
a Santa Sé.
Apraz-me
ver esta decisão como sinal do empenho da nação em prosseguir o
diálogo e a cooperação construtiva dentro da comunidade
internacional alargada, bem como em renovar o tecido da sociedade
civil.
Gostaria
também que a minha visita pudesse atingir toda a população do
Mianmar e oferecer uma palavra de encorajamento a todos aqueles que
estão a trabalhar para construir uma ordem social justa,
reconciliada e inclusiva.
O
Mianmar foi abençoado com o dom duma beleza extraordinária e
numerosos recursos naturais, mas o maior tesouro dele é, sem dúvida,
o seu povo, que sofreu muito e continua a sofrer por causa de
conflitos civis e hostilidades que duraram muito tempo e criaram
profundas divisões.
Uma
vez que agora a nação está a trabalhar por restaurar a paz, a cura
destas feridas não pode deixar de ser uma prioridade política e
espiritual fundamental.
Só
posso expressar apreço pelos esforços do Governo em enfrentar este
desafio, em particular através da Conferência de Paz de Panglong,
que reúne os representantes dos vários grupos numa tentativa para
pôr fim à violência, criar confiança e garantir o respeito pelos
direitos de quantos consideram esta terra como a sua casa.
Com
efeito, o árduo processo de construção da paz e reconciliação
nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e
do respeito pelos direitos humanos.
A
sabedoria dos antigos definiu a justiça como a vontade de reconhecer
a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a
consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura.
Estas
intuições, confirmadas pela trágica experiência de duas guerras
mundiais, levaram à criação das Nações Unidas e à Declaração
Universal dos Direitos Humanos como base dos esforços da comunidade
internacional para promover a justiça, a paz e o progresso humano em
todo o mundo e para resolver os conflitos através do diálogo, e não
com o uso da força.
Neste
sentido, a presença do Corpo Diplomático entre nós testemunha não
só o lugar que o Mianmar ocupa entre as nações, mas também o
compromisso do país em manter e perseguir estes princípios
fundamentais.
O
futuro do Mianmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela
dignidade e os direitos de cada membro da sociedade, no respeito por
cada grupo étnico e sua identidade, no respeito pelo Estado de
Direito e uma ordem democrática que permita a cada um dos indivíduos
e a todos os grupos – sem excluir nenhum – oferecer a sua
legítima contribuição para o bem comum.
No
trabalho imenso da reconciliação e integração nacional, as
comunidades religiosas do Mianmar têm um papel privilegiado a
desempenhar.
As
diferenças religiosas não devem ser fonte de divisão e
dissidência, mas sim uma força em prol da unidade, do perdão, da
tolerância e da sábia construção da nação.
As
religiões podem desempenhar um papel significativo na cura das
feridas emocionais, espirituais e psicológicas daqueles que sofreram
nos anos de conflito.
Impregnando-se
de tais valores profundamente enraizados, elas podem ajudar a
extirpar as causas do conflito, construir pontes de diálogo,
procurar a justiça e ser uma voz profética para as pessoas que
sofrem.
É
um grande sinal de esperança o facto de que os líderes das várias
tradições religiosas deste país se estejam comprometendo a
trabalhar juntos, com espírito de harmonia e respeito mútuo, pela
paz, pela ajuda aos pobres e pela educação nos valores religiosos e
humanos autênticos.
Quando
procuram construir uma cultura do encontro e da solidariedade, eles
contribuem para o bem comum e colocam as bases morais indispensáveis
para um futuro de esperança e prosperidade para as gerações
vindouras.
Hoje
aquele futuro já está nas mãos dos jovens da nação.
Os
jovens são um dom a estimar e encorajar, um investimento que só
produzirá um bom rendimento na base de oportunidades reais de
emprego e duma educação de qualidade.
Trata-se
de um requisito impelente de justiça intergeracional.
O
futuro do Mianmar, num mundo em rápida evolução e interconexão,
dependerá da formação dos seus jovens, não só nos campos
técnicos, mas sobretudo na formação para os valores éticos de
honestidade, integridade e solidariedade humanas, que podem garantir
a consolidação da democracia e o crescimento da unidade e da paz em
todos os níveis da sociedade.
De
igual modo a justiça intergeracional requer que as futuras gerações
herdem um meio ambiente que não esteja corrompido pela ganância e a
depredação humana.
É
indispensável que os nossos jovens não sejam espoliados da
esperança e da possibilidade de empregar o seu idealismo e os seus
talentos na projectação do futuro do seu país, melhor, da família
humana inteira.
Senhora
Conselheira de Estado, queridos amigos!
Nestes
dias, quero encorajar os meus irmãos e irmãs católicos a
perseverar na sua fé e a continuar a expressar a sua mensagem de
reconciliação e fraternidade através de obras caritativas e
humanitárias, de que toda a sociedade possa beneficiar.
Espero
que, na respeitosa cooperação com os seguidores de outras religiões
e com todos os homens e mulheres de boa vontade, contribuam para
abrir uma nova era de concórdia e progresso para os povos desta
amada nação.
Longa
vida ao Mianmar!
Agradeço-vos
pela atenção e, formulando votos das melhores felicidades no vosso
serviço ao bem comum, sobre todos vós invoco as bênçãos divinas
de sabedoria, força e paz.
Obrigado.
Fontes:
Santa Sé; Rádio Vaticano; L'Osservatore Romano
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