A
primeira mensagem à diocese do nosso Bispo D. Manuel
D.
Manuel Linda dirige-se a todos, na sociedade e nas comunidades
católicas, destacando os mais débeis: os pobres, desempregados,
doentes, idosos, detidos e quantos perderam os horizontes da
esperança.
Aos
que, na consciência da fé, no desânimo da indiferença, na adesão
a outras crenças ou até na oposição ao fenómeno religioso
aspiram à felicidade pessoal e colectiva, edificam a sociedade
humana na paz e na verdade e vivem ou são originários da área da
Diocese do Porto
1.
Ao longo da vida, tenho sido presenteado com surpresas tão
agradáveis que nem sequer ousava esperar.
Muitos
chamarão a isso coincidência ou acaso.
Eu,
porém, acredito que é o Espírito de Deus quem conduz a história,
não obstante a liberdade pessoal e até as resistências colocadas à
graça.
A
minha nomeação para ir pastorear a Diocese do Porto, agora tornada
pública, insere-se nestas felizes surpresas com que Deus tem urdido
as teias da minha existência.
2.
Ao Santo Padre, o Papa Francisco, agradeço esta prova de confiança.
E
renovo, solenemente, uma total fidelidade efectiva e afectiva.
Igual
agradecimento vai para o senhor Núncio Apostólico e para quantos
apostaram no meu nome: como disse por alturas da minha ordenação
episcopal, tentarei não defraudar a confiança.
3.
Não é sem emoção que regresso ao Porto passadas quase quatro
décadas depois da minha formação no seu Seminário Maior.
Daqui
surgi para a vida sacerdotal, aqui exerci o sacerdócio colaborando
na formação de novos padres, aqui volto como mais um de entre os
muitíssimos que apostam tudo na evangelização e na promoção
humana desta Diocese que sempre se distinguiu pela cultura dos seus
membros, zelo missionário, santidade operante e sadia presença na
sociedade.
Tudo
isto na fidelidade ao sopro do Espírito que nos manda edificar «um
novo céu e uma nova terra», de acordo com os sinais dos tempos.
4.
É, pois, com uma imensa alegria e não menor admiração que saúdo
quantos a constituem.
Permitam-me
um destaque especial para os mais débeis: os pobres, desempregados,
doentes, idosos, detidos e quantos perderam os horizontes da
esperança.
Cumprimento
as famílias, sem qualquer dúvida, a célula básica da sociedade e,
consequentemente, também da nossa Igreja.
Apetecia-me
parafrasear o Papa São João XXIII e dizer com a mesma bonomia: dai
um beijo aos vossos filhos e dizei-lhes que é o novo bispo quem lho
manda.
Felicito
quantos constituem a necessária teia social da comunidade viva: o
mundo do trabalho e suas organizações, os sectores da cultura e do
desporto, os organismos voltados para a saúde e para a assistência
social, autênticos pilares da liberdade e da felicidade possíveis.
Uma
palavra de admiração aos dirigentes da comunidade: sei bem do vosso
valor e zelo nos diversos âmbitos, seja nas autarquias e no ensino,
seja na segurança ou na administração.
5.
A Igreja de Deus que está no Porto é fidelíssima naquele dinamismo
apostólico e missionário que deve caracterizar o homem e a mulher
de fé.
Agradeço
a todos os que empenham muitas das suas energias ao serviço do
Evangelho: os fiéis leigos que dão corpo aos organismos paroquiais
e diocesanos e fermentam o mundo com o humanismo cristão; as
religiosas e os religiosos que nos oferecem o exemplo do seguimento
radical de Jesus; os Diáconos que testemunham a caridade como
primeira característica do Reino de Deus; os Seminários que nos
asseguram a esperança; os caríssimos Padres, alguns já tão
cansados, que aguentam o peso do trabalho e a desconfiança de uma
sociedade em continua mutação; o Cabido, instância de saber e de
dinamismo sacerdotal; o Vigário Geral e membros das estruturas de
participação, garantia da co-responsabilidade; o Reverendíssimo
Administrador Diocesano, D. António Taipa e os Senhores Bispos
Auxiliares, D. Pio Alves e D. António Augusto, os quais, no seu
conjunto, constituem o verdadeiro centro nevrálgico da intensa vida
diocesana.
Continuaremos
com este dinamismo.
Deixai-me
inserir nessa vinha do Senhor como assalariado acabado de contratar.
6.
Trabalharei no Porto como tenho feito até aqui: «com Pedro e sob
Pedro».
Mas
também «à maneira de Pedro».
Isto
é, pretendo ser um «missionário da misericórdia», um pastor com
«o cheiro das ovelhas», um pai dos Padres, um irmão dos mais
pobres e um fomentador do espírito ecuménico e de diálogo.
Procurarei
reconduzir a Igreja a uma tal simplicidade evangélica que a
constitua referencial ético para o mundo actual.
7.
Ainda que numa visão global e apressada, no último século, chama a
atenção uma forte semelhança entre o enorme timbre de grandeza dos
Pastores da Diocese do Porto e os da Igreja universal.
Numa
e noutra, há mártires, profetas e santos.
No
caso desta nossa Diocese, legaram-nos um tal património
histórico-moral que constitui uma referência incontornável para a
Igreja e para a sociedade portuguesas.
Tendo
presente, apenas, aqueles que conheci pessoalmente, não deixarei de
me inspirar na determinação granítica de D. António, no zelo
pastoral de D. Júlio, na arguta perspicácia de D. Armindo, na
lucidez intelectual de D. Manuel e na afectividade pura e contagiante
de D. António Francisco.
8.
Sei bem que o meu antecessor directo marcou a história da Diocese
com a sua proximidade e candura.
Por
isso, foi chorado como um pai.
Também
o foi por mim.
Não
ignoro que não é fácil substitui-lo.
Mas
todos nós, agentes de pastoral, tomaremos em boa conta o seu grande
legado: a certeza de que a única chave que abre o coração humano é
a ternura e a simpatia.
9.
Se o Porto é a "cidade do trabalho", não é menos a
"cidade da Virgem".
Da
"Terra de Santa Maria" até à Senhora da Vandoma, a
invocação pode ser distinta, mas a devoção e a confiança são as
mesmas.
Então,
que a Mãe de Jesus e Mãe da Igreja vele por nós e pelo meu novo
ministério, para que sejamos, agora e sempre, uma Igreja aberta,
franca, acolhedora, missionária, orante, solidária, encarnada no
mundo.
Se
"daqui houve nome Portugal" como nos garante Eugénio de
Andrade, também floresça uma Igreja conduzida pelo Espírito,
sensível aos sinais dos tempos e sempre "reformanda", como
pede o Papa Francisco e exigem os nossos contemporâneos.
10.
A nossa ilustre diocesana, Sophia de Mello Breyner, deixou-nos uns
versos que interpelam:
“A
presença dos céus não é a Tua,
embora
o vento venha não sei donde.
Os
oceanos não dizem que os criaste,
nem
deixas o Teu rasto nos caminhos.
Só
o olhar daqueles que escolheste
nos
dá o Teu sinal entre os fantasmas”.
Somos
nós esses escolhidos para captarmos e retransmitirmos o «sinal» de
Deus.
Vamos
fazê-lo de tal maneira que se evitem todos os ruídos perturbadores
e, dessa forma, se afugentem os fantasmas dos medos e os pavores da
solidão, tão típicos da sociedade actual?
A
todos abraço. Sobre todos invoco a bênção divina.
+
Manuel Linda
Fontes:
Diocese do
Porto; Agência
Ecclesia
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