Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 12 de junho de 2020

FÉS



"Neste nosso tempo de forte autonomia individual, predomina a percepção que cada um faz ou quer fazer da realidade"

   
   

80ª Mensagem do nosso Bispo D. Manuel, publicada no dia 7 de Junho de 2020:


Fés

A dimensão religiosa é histórica e geograficamente universal.
Disso ninguém tem dúvida.
Baseia-se sempre numa fé aceite e compartilhada.
Fé séria ou ridícula, fruto de uma «revelação» ou iniciativa de um espertalhaço que a impinge.

Na religião entra uma dupla polaridade: a divindade em que se acredita e a pessoa que lhe presta assentimento.
De acordo com a cultura do tempo, ora se acentua mais um, ora outro desses núcleos.
No passado, de pendor colectivo, privilegiava-se a instituição e o que ela pregava; neste nosso tempo de forte autonomia individual, predomina a percepção que cada um faz ou quer fazer da realidade.
No passado, a pessoa submetia-se; hoje, contesta e desconstrói.
Daí a afirmação de que “religião, cada um tem a sua”.
Fabricando-a à sua medida, claro.

Porque muito presente no Ocidente, âmbito onde esta perspectiva de autonomia individualista é mais aguda, são a Igreja e a fé católica quem mais sofre com este fenómeno.
Consequência: para muitos «crentes», conta mais a sua «maneira de ver» do que a tradição e a fé eclesial.
E a «autoridade» é que nada conta se não se compaginar com as suas manias.
Neste caso, «aqui d’el rei” que a Igreja está ultrapassada, que esta não se adaptou aos novos tempos, etc.
Tal como protestaram aqueles noivos que exigiam que fosse o seu cãozinho a transportar as alianças até ao altar, no dia do casamento.

Risível?
Há outros ridículos, porventura mais impressionantes.
Por exemplo, o daquela mulher que difundiu amplamente um e-mail a dizer que jamais voltará a entrar numa igreja porque os bispos de Portugal, no conjunto de normas para evitar a propagação do Covid-19, ousaram apelar a que a comunhão se faça na mão e não na boca.
Temporariamente, claro.
E como ela, num acesso de «piedade» jansenista, valoriza mais a abertura da boca do que a comunhão do Corpo de Cristo, dispara violentamente contra quem não lhe satisfaz os seus caprichos.
Para ela, a fé resume-se à sua mania e o previsível contágio dos outros não entra no rol das suas preocupações.
Por isso, diz que sai da Igreja Católica.
Sai, se é que algum dia lá tinha entrado.
Com esta fé…

Há pessoas que reviram os olhos como se estivessem no mais profundo êxtase místico.
Mas não é para «ver a Deus» ou ver os outros: é para se contemplarem a si próprias.

O povo atribui uma designação a esse fenómeno e não dá conotação positiva ao termo que emprega: beatério.

D. Manuel Linda



Fontes: Diocese do Porto; Voz Portucalense - fotografia



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