A
oração de Jacob
foi
o tema da catequese do Papa Francisco nesta Quarta-feira
Dando
continuidade ao tema da oração, o
Santo Padre iniciou a
catequese com um trecho do Livro do Génesis
que narra os acontecimentos de homens e mulheres de tempos distantes,
contando-nos histórias nas quais podemos
espelhar
as
nossas
vidas.
“No
ciclo dos patriarcas, encontramos também o de um homem que tinha
feito da astúcia o seu melhor talento: Jacob.
A
narração bíblica conta-nos a difícil relação que Jacob teve com
o seu irmão Esaú.
Desde
crianças, houve rivalidades entre eles, que nunca foram resolvidas.
Jacob
é o segundo filho, mas, com o engano, consegue obter de seu pai
Isaac a bênção e o dom da primogenitura.
É
apenas a primeira de uma longa série de astúcias das quais este
homem sem escrúpulos é capaz.
Até
o nome “Jacob” significa alguém que se move com astúcia.”
O
Papa Francisco concluiu sua catequese, dizendo que
“Todos
nós temos um encontro marcado com Deus de noite, na noite da nossa
vida, nas muitas noites da nossa vida: momentos escuros, momentos de
pecado, momentos de desorientação.
Há
ali um encontro com Deus, sempre.”
No
final da Audiência, o Pontífice recordou a Solenidade de
Corpus
Christi
nesta Quinta-feira.
“Este
ano não é possível celebrar a Eucaristia com manifestações
públicas, todavia podemos realizar uma «vida
eucarística».”
Disponibilizado
hoje o texto completo da catequese do Papa Francisco:
Amados
irmãos e irmãs, bom dia!
Continuemos
a nossa catequese sobre o tema da oração.
O
livro do Génesis, através das vicissitudes de homens e mulheres de
tempos distantes, conta-nos histórias nas quais podemos reflectir as
nossas vidas.
No
ciclo dos patriarcas, encontramos também o de um homem que tinha
feito da astúcia o seu melhor talento: Jacob.
A
narração bíblica conta-nos a difícil relação que Jacob teve com
o seu irmão Esaú.
Desde
crianças, houve rivalidades entre eles, que nunca foram resolvidas.
Jacob
é o segundo filho, mas, com o engano, consegue obter de seu pai
Isaac a bênção e o dom da primogenitura (cf. Gn 25, 19-34).
É
apenas a primeira de uma longa série de astúcias das quais este
homem sem escrúpulos é capaz.
Até
o nome “Jacob” significa alguém que se move com astúcia.
Forçado
a fugir para longe do seu irmão, ele parece ter sucesso em todos os
empreendimentos da sua vida.
É
hábil nos negócios: enriquece muito, tornando-se o dono de um
enorme rebanho.
Com
tenacidade e paciência consegue casar com a mais bela das filhas de
Labão, pela qual estava verdadeiramente apaixonado.
Jacob
- diríamos com linguagem moderna - é um homem que “se fez
sozinho”, com a sua perspicácia, com a astúcia, conseguiu
conquistar tudo o que quis.
Mas
faltava-lhe alguma coisa.
Faltava-lhe
a relação viva com as próprias raízes.
E
um dia sente saudades de casa, da sua antiga pátria, onde ainda
vivia Esaú, o irmão com o qual sempre tivera péssimas relações.
Jacob
partiu e fez uma longa viagem com uma numerosa caravana de pessoas e
animais, até chegar à última etapa, o rio Jaboq.
Aqui
o Livro do Génesis oferece-nos uma página memorável (cf. 32,
23-33).
Diz-nos
que o patriarca, depois de ter feito todo o seu povo e gado - que era
tanto - atravessar o baixio, permanece sozinho na margem estrangeira.
E
pensa: o que o espera no dia seguinte? Qual será a atitude do seu
irmão Esaú, ao qual roubara a primogenitura?
A
mente de Jacob é um turbilhão de pensamentos…
E
quando anoitece, de repente um desconhecido apodera-se dele e começa
a lutar contra ele.
O
Catecismo explica: «A tradição espiritual da Igreja divisou nesta
narrativa o símbolo da oração como combate da fé e vitória da
perseverança» (CIC, 2573).
Jacob
lutou até ao romper da aurora, sem nunca se libertar das garras do
seu adversário.
No
final, foi derrotado, atingido pelo seu rival no nervo ciático,
ficando aleijado para o resto da vida.
Esse
misterioso lutador pergunta ao patriarca o seu nome, dizendo-lhe: «O
teu nome não será mais Jacob, mas Israel; porque combateste contra
Deus e contra os homens e conseguiste resistir!» (v. 29).
Como
se quisesse dizer: nunca serás o homem que caminha assim, mas
direito.
Muda-lhe
o nome, muda-lhe a vida, muda-lhe a atitude: chamar-te-ás Israel.
Então
também Jacob pergunta: «Peço-te que me digas o teu nome».
Ele
não lho revela, mas em troca abençoa-o.
E
Jacob percebe que encontrou Deus “face a face” (cf. vv. 30-31).
Lutar
com Deus: uma metáfora da oração.
Outras
vezes, Jacob tinha-se mostrado capaz de dialogar com Deus, de O
sentir como uma presença amiga e próxima.
Mas
dessa noite, através de uma luta que durou muito tempo e que o viu
quase sucumbir, o patriarca saiu transformado.
Mudança
do nome, mudança do modo de viver e mudança da personalidade: ele
saiu transformado.
Desta
vez já não é dono da situação – a sua astúcia não serve -
já não é o estratega nem o homem calculista; Deus o reconduz à
sua verdade de mortal que treme e tem medo, porque na luta Jacob
sentiu medo.
Pela
primeira vez Jacob nada mais tem para apresentar a Deus a não ser a
sua fragilidade e impotência, também os seus pecados.
E
é este Jacob que recebe a bênção de Deus, com a qual entra coxo
na terra prometida: vulnerável, e vulnerado, mas com um coração
novo.
Certa
vez ouvi um idoso dizer - um bom homem, um bom cristão, mas um
pecador que tinha tanta fé em Deus -:
“Deus
me ajudará; Ele não me deixará sozinho. Entrarei no paraíso a
coxear, mas entrarei”.
Anteriormente
Jacob era um homem seguro de si; ele confiava na sua própria
astúcia.
Era
um homem impermeável à graça, refractário à misericórdia; não
sabia o que era a misericórdia.
“Aqui
sou eu que mando!”, pensava que não precisava de misericórdia.
Mas
Deus salvou o que estava perdido.
Ele
o fez entender que era limitado, que era um pecador que precisava de
misericórdia e salvou-o.
Todos
nós temos um encontro marcado com Deus de noite, na noite da nossa
vida, nas muitas noites da nossa vida: momentos escuros, momentos de
pecado, momentos de desorientação.
Há
ali um encontro com Deus, sempre.
Ele
nos surpreenderá quando menos esperamos, quando nos encontramos
verdadeiramente sozinhos.
Nessa
mesma noite, lutando contra o desconhecido, tomaremos consciência de
que somos apenas pobres homens - ouso dizer “infelizes” - mas,
precisamente nessa altura, quando nos sentirmos “pobres homens”,
não deveremos recear: porque, nesse preciso momento, Deus nos dará
um novo nome, que contém o sentido de toda a nossa vida; Ele mudará
os nossos corações e nos dará a bênção reservada para aqueles
que se deixam transformar por Ele.
Este
é um bom convite para nos deixarmos transformar por Deus.
Ele
sabe como fazer, porque conhece cada um de nós.
“Senhor,
tu conheces-me”, todos nós o podemos dizer.
“Senhor,
tu conheces-me. Transforma-me”.
PAPA
FRANCISCO
Audiência
Geral, Quarta-feira, 10 de Junho de 2020
Fontes:
Santa Sé; Notícias do Vaticano
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