A
celebrar no dia 18 de Outubro é inspirada na passagem de Isaías
«Eis-me
aqui, envia-me»
(Is
6, 8)
Nesta
Solenidade de Pentecostes, o Papa Francisco divulgou a sua mensagem
para o Dia Mundial das Missões deste ano.
“A
missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito
concretizável por um esforço de vontade.
É
Cristo que faz sair a Igreja de si mesma.
Na
missão de anunciar o Evangelho, moves-te porque o Espírito te
impele e conduz.”
MENSAGEM
DE SUA SANTIDADE
O
PAPA FRANCISCO
PARA
O DIA MUNDIAL DAS MISSÕES DE 2020
[18
de Outubro de 2020]
«Eis-me
aqui, envia-me» (Is 6, 8)
Queridos
irmãos e irmãs!
Desejo
manifestar a minha gratidão a Deus pelo empenho com que, em Outubro
passado, foi vivido o Mês Missionário Extraordinário em toda a
Igreja.
Estou
convencido de que isso contribuiu para estimular a conversão
missionária em muitas comunidades pela senda indicada no tema
«Baptizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo».
Neste
ano, marcado pelas tribulações e desafios causados pela pandemia do
covid-19, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz
da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta
Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is
6, 8).
É
a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?»
(Ibid.).
Esta
chamada provém do coração de Deus, da sua misericórdia, que
interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial actual.
«À
semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma
tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo
barco, todos frágeis e desorientados mas, ao mesmo tempo,
importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos
carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal
como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados
“vamos perecer” (cf. Mc 4, 38), assim também nós nos
apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta
própria, mas só o conseguiremos juntos» (Francisco,
Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020).
Estamos
verdadeiramente assustados, desorientados e temerosos.
O
sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade
humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum
forte desejo de vida e de libertação do mal.
Neste
contexto, a chamada à missão, o convite a sair de si mesmo por amor
de Deus e do próximo aparece como oportunidade de partilha, serviço,
intercessão.
A
missão que Deus confia a cada um faz passar do «eu» medroso e
fechado ao «eu» resoluto e renovado pelo dom de si.
No
sacrifício da cruz, onde se realiza a missão de Jesus (cf. Jo
19, 28-30), Deus revela que o seu amor é por todos e cada um (cf. Jo
19, 26-27).
E
pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados, porque
Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de Si
mesmo para dar vida.
Por
amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus (cf. Jo 3, 16).
Jesus
é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são,
inteiramente, obediência à vontade do Pai (cf. Jo 4, 34; 6,
38; 8, 12-30; Heb 10, 5-10).
Por
sua vez, Jesus – crucificado e ressuscitado por nós –, no seu
movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a
Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao
mundo e às nações.
«A
missão, a “Igreja em saída” não é um programa, um intuito
concretizável por um esforço de vontade. É Cristo que faz sair a
Igreja de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, moves-te
porque o Espírito te impele e conduz (Francisco,
Sem Ele nada podemos fazer, 2019, 16-17).
Deus
é sempre o primeiro a amar-nos e, com este amor, vem ao nosso
encontro e chama-nos.
A
nossa vocação pessoal provém do facto de sermos filhos e filhas de
Deus na Igreja, sua família, irmãos e irmãs naquela caridade que
Jesus nos testemunhou.
Mas,
todos têm uma dignidade humana fundada na vocação divina a ser
filhos de Deus, a tornar-se, no sacramento do Baptismo e na liberdade
da fé, aquilo que são desde sempre no coração de Deus.
Já
o facto de ter recebido gratuitamente a vida constitui um convite
implícito para entrar na dinâmica do dom de si mesmo: uma semente
que, nos baptizados, ganhará forma madura como resposta de amor no
matrimónio e na virgindade pelo Reino de Deus.
A
vida humana nasce do amor de Deus, cresce no amor e tende para o
amor.
Ninguém
está excluído do amor de Deus e, no santo sacrifício de seu Filho
Jesus na cruz, Deus venceu o pecado e a morte (cf. Rom 8,
31-39).
Para
Deus, o mal – incluindo o próprio pecado – torna-se um desafio
para amar, e amar cada vez mais (cf. Mt 5, 38-48; Lc
23, 33-34).
Por
isso, no Mistério Pascal, a misericórdia divina cura a ferida
primordial da humanidade e derrama-se sobre o universo inteiro.
A
Igreja, sacramento universal do amor de Deus pelo mundo, prolonga na
história a missão de Jesus e envia-nos por toda a parte para que,
através do nosso testemunho da fé e do anúncio do Evangelho, Deus
continue a manifestar o seu amor e possa tocar e transformar
corações, mentes, corpos, sociedades e culturas em todo o tempo e
lugar.
A
missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus.
Mas
esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação
pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja.
Perguntemo-nos:
estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa
vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio,
quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em
todo o caso, na vida comum de todos os dias?
Estamos
dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a
nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da
salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito
Santo edificando a Igreja?
Como
Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao
serviço da vontade de Deus (cf. Lc 1, 38)?
Esta
disponibilidade interior é muito importante para se conseguir
responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me (cf. Is 6, 8).
E
isto respondido não em abstracto, mas no hoje da Igreja e da
história.
A
compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de
pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja.
Desafia-nos
a doença, a tribulação, o medo, o isolamento.
Interpela-nos
a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo,
de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e
comida.
Obrigados
à distância física e a permanecer em casa, somos convidados a
redescobrir que precisamos das relações sociais e também da
relação comunitária com Deus.
Longe
de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria
tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os
outros.
E
a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às
carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem
como ao cuidado por toda a criação.
A
impossibilidade de nos reunirmos como Igreja para celebrar a
Eucaristia fez-nos partilhar a condição de muitas comunidades
cristãs que não podem celebrar a Missa todos os Domingos.
Neste
contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem
enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta:
«Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8).
Deus
continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a
fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte,
a sua libertação do mal (cf. Mt 9, 35-38; Lc 10,
1-11).
Celebrar
o Dia Mundial das Missões significa também reiterar que a oração,
a reflexão e a ajuda material das vossas ofertas são oportunidades
para participar activamente na missão de Jesus na sua Igreja.
A
caridade manifestada nas colectas das celebrações litúrgicas do
terceiro domingo de Outubro tem por objectivo sustentar o trabalho
missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias
Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos
povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.
A
Santíssima Virgem Maria, Estrela da Evangelização e Consoladora
dos Aflitos, discípula missionária do seu Filho Jesus, continue a
amparar-nos e a interceder por nós.
Roma,
em São João de Latrão, na Solenidade de Pentecostes, 31 de Maio de
2020.
Francisco
Fontes:
Santa Sé; Notícias do Vaticano
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