Foi
apresentado ontem em Conferência de Imprensa pelo Presidente do
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização
Às
11H30 da manhã de ontem, no salão "João Paulo II" da
Sala de Imprensa da Santa Sé, foi realizada uma Conferência de
Imprensa para apresentar o Directório para a Catequese elaborado pelo Pontifício Conselho para a
Promoção da Nova Evangelização e
aprovado pelo Papa Francisco a 23 de Março de 2020.
Segundo
D. Rino Fisichella, o documento nasceu da necessidade de levar em
consideração "com grande realismo, a novidade que se
apresenta, na tentativa de propor uma leitura dessa mesma novidade
que envolvesse a catequese".
É
por esta razão que o Directório apresenta "não apenas as
problemáticas inerentes à cultura digital, mas sugere também os
percursos a realizar para que a catequese se torne uma proposta que
encontra o interlocutor que seja capaz de a compreender e de ver como
se adequa ao seu mundo".
“É
urgente levar a cabo a “conversão pastoral” para libertar a
catequese de algumas armadilhas que impedem a sua eficácia.
O
primeiro pode ser identificado no esquema escolar, segundo o qual a
catequese de iniciação cristã é vivida no paradigma da escola.
A
catequista substitui a professora, a sala da escola dá lugar à sala
de catequese, o calendário escolar é idêntico ao da catequese…”
“A
catequese deve estar intimamente unida à obra de evangelização e
não pode prescindir dela.
Precisa
de assumir em si as características próprias da evangelização,
sem cair na tentação de se substituir a ela ou de querer impor à
evangelização os seus pressupostos pedagógicos.
Nesta
relação, o primado pertence à evangelização e não à
catequese.”
A
edição portuguesa do
Directório
para a Catequese vai ser apresentada nas Jornadas Nacionais de
Catequistas no próximo mês de Outubro.
O
cónego Luís Miguel Figueiredo Rodrigues, responsável pela Comissão
Arquidiocesana para a Educação Cristã de Braga, analisa o novo
Directório para a Catequese:
Conferência
de Imprensa para a apresentação do Directório
de Catequese, elaborado pelo Pontifício Conselho para a Promoção
da Nova Evangelização, 25
de Junho de 2020
Intervenção
de D. Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a
Promoção da Nova Evangelização
A
publicação de um Directório para a Catequese representa um
acontecimento feliz para a vida da Igreja.
Com
efeito, pode constituir um desafio positivo para todos os que se
dedicam ao grande empenho da catequese, uma vez que permite
experimentar a dinâmica do movimento catequético que sempre teve
uma presença significativa na vida da comunidade cristã.
O
Directório para a Catequese é um documento da Santa Sé oferecido a
toda a Igreja.
Necessitou
de muito tempo e trabalho, e chega até nós como conclusão de uma
vasta consulta internacional.
Hoje
é apresentada a edição oficial em língua italiana.
No
entanto, já estão prontas as traduções em espanhol (edição para
a América Latina e para a Espanha), português (edição para o
Brasil e para Portugal), inglês (edição para os EUA e para o Reino
Unido), francês e polaco.
Dirige-se
em primeiro lugar aos Bispos, primeiros catequistas entre o Povo de
Deus, na medida em que são os primeiros responsáveis pela
transmissão da fé (cf. n. 114).
Juntamente
com eles são envolvidas as Conferências episcopais, com as
respectivas Comissões para a catequese, para partilhar e elaborar um
desejável projecto nacional que apoie o caminho de cada diocese (cf.
n. 413).
No
entanto, os mais directamente envolvidos no uso do Directório são
os sacerdotes, os diáconos, as pessoas consagradas e os milhões de
catequistas que, todos os dias, desempenham o seu ministério com
gratuitidade, esforço e esperança nas diferentes comunidades.
A
dedicação com que trabalham, sobretudo num momento de transição
cultural como este, é sinal palpável de quanto o encontro com o
Senhor pode transformar um catequista num genuíno evangelizador.
Desde
o Concílio Vaticano II, este que apresentamos hoje é o terceiro
Directório.
O
primeiro de 1971, Directório Catequístico Geral, e o segundo de
1997, Directório Geral da Catequese, marcaram estes últimos
cinquenta anos de história da catequese.
Estes
textos desempenharam um papel primordial.
Constituíram
uma ajuda importante para levar o caminho catequético a dar um passo
decisivo, sobretudo através da renovação da metodologia e da
instância pedagógica.
O
processo de inculturação que caracteriza de modo particular a
catequese e que, sobretudo nos nossos dias, obriga a ter uma atenção
bastante particular exigiu a composição de um novo Directório.
A
Igreja está diante de um grande desafio que se concentra na nova
cultura com a qual se vai encontrando, a cultura digital.
Centrar
a atenção num fenómeno que se impõe como global obriga todos os
que têm responsabilidade da formação a evitar subterfúgios.
Diversamente
do passado, quando a cultura estava limitada ao contexto geográfico,
a cultura digital tem um valor que sente os efeitos da globalização
em curso e determina o seu desenvolvimento.
Os
instrumentos criados nesta década são a manifestação de uma
transformação radical dos comportamentos que incidem sobretudo na
formação da identidade pessoal e nas relações interpessoais.
A
velocidade com que se modifica a linguagem, e com ela também as
relações comportamentais, deixa vislumbrar um novo modelo de
comunicação e de formação que toca inevitavelmente também a
Igreja no complexo mundo da educação.
A
presença das várias expressões eclesiais no vasto mundo da
internet constitui certamente um facto positivo, mas a cultura
digital vai muito para além disso.
Ela
toca a raiz da questão antropológica decisiva em qualquer contexto
formativo, como o da verdade e da liberdade.
O
próprio facto de colocar esta problemática impõe que se verifique
a adequação da proposta formativa, venha donde vier.
Ela
torna-se, no entanto, um confronto imprescindível para a Igreja, em
virtude da sua “competência” sobre o homem e a sua pretensão de
verdade.
Talvez
esta premissa fosse suficiente para demonstrar a necessidade de um
novo Directório para a catequese.
Na
época digital, vinte anos são comparáveis, sem exagero, a pelo
menos meio século.
Daqui
resultou a exigência de redigir um Directório que tivesse em conta,
com grande realismo, a novidade que se apresenta, na tentativa de
propor uma leitura dessa mesma novidade que envolvesse a catequese.
É
por este motivo que o Directório apresenta não apenas as
problemáticas inerentes à cultura digital, mas sugere também os
percursos a realizar para que a catequese se torne uma proposta que
encontra o interlocutor que seja capaz de a compreender e de ver como
se adequa ao seu mundo.
No
entanto, existe uma razão mais de ordem teológica e eclesial que
convenceu a redigir este Directório.
O
convite a viver cada vez mais a dimensão sinodal não pode deixar
esquecer os últimos Sínodos que a Igreja viveu.
Em
2005 o Sínodo sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão
da Igreja; em 2008, A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja;
em 2015, A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo
contemporâneo; em 2018, Os jovens, a fé e o discernimento
vocacional.
Como
se pode observar, em todas estas assembleias, repetem-se algumas
constantes que tocam de perto o tema da evangelização e da
catequese, o que se pode verificar pelos documentos que se lhes
seguiram.
De
modo mais particular é forçoso referir-nos a dois acontecimentos
que, de forma complementar, marcam a história desta última década
no que se refere à catequese: o Sínodo sobre a Nova evangelização
e a transmissão da fé, em 2012, com a consequente Exortação
apostólica do Papa Francisco Evangelii gaudium, e o vigésimo
quinto aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica,
ambos tocando directamente a competência do Conselho Pontifício
para a Promoção da Nova Evangelização.
A
evangelização ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja e no
magistério quotidiano do Papa Francisco.
Não
poderia ser de outro modo.
A
evangelização é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confiou à sua
Igreja para ser no mundo de cada tempo o anúncio fiel do seu
Evangelho.
Prescindir
deste pressuposto equivaleria a transformar a comunidade cristã numa
das muitas associações beneméritas, orgulhosa dos seus dois mil
anos de história, mas não a Igreja de Cristo.
A
perspectiva do Papa Francisco, nomeadamente, está em forte
continuidade com os ensinamentos de São Paulo VI na Evangelii
nuntiandi, de 1975.
Os
dois não fazem outra coisa que não seja referir-se à riqueza que
brotou do Vaticano II que, no que se refere à catequese, encontrou
na Catechesi tradendae (1979) de São João Paulo II o seu
ponto central.
Portanto,
a catequese deve estar intimamente unida à obra de evangelização e
não pode prescindir dela.
Precisa
de assumir em si as características próprias da evangelização,
sem cair na tentação de se substituir a ela ou de querer impor à
evangelização os seus pressupostos pedagógicos.
Nesta
relação, o primado pertence à evangelização e não à catequese.
Isto
permite compreender por que razão, à luz da Evangelii gaudium,
este Directório se qualifica por sustentar uma “catequese
querigmática”.
O
coração da catequese é o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, que
ultrapassa os limites de espaço e de tempo para se apresentar a cada
geração como a novidade oferecida para alcançar o sentido da vida.
Nesta
perspectiva, é indicada uma nota fundamental de que a catequese deve
apropriar-se: a misericórdia.
O
querigma é anúncio da misericórdia do Pai que vai ao encontro do
pecador, não mais considerado como um excluído, mas como convidado
privilegiado ao banquete da salvação que consiste no perdão dos
pecados.
Se
quisermos, é neste contexto que ganha força a experiência do
catecumenato como experiência do perdão oferecido e da consequente
vida nova de comunhão com Deus.
No
entanto, a centralidade do querigma deve ser recebida em sentido
qualitativo e não temporal.
Efectivamente,
requer que esteja presente em todas as fases da catequese e de todas
as catequeses.
É
o “primeiro anúncio” que é feito sempre, porque Cristo é o
único necessário.
A
fé não é algo de óbvio que se recupera nos momentos de
necessidade, mas é um acto de liberdade que compromete toda a vida.
Portanto,
o Directório assume a centralidade do querigma que se exprime em
sentido trinitário como compromisso de toda a Igreja.
A
catequese, tal como é expressa pelo Directório, caracteriza-se por
esta dimensão e pelas implicações que confere à vida das pessoas.
Neste
horizonte, toda a catequese adquire um valor peculiar que se exprime
no aprofundamento constante da mensagem evangélica.
Enfim,
a catequese tem a finalidade de fazer alcançar o conhecimento do
amor cristão que leva aqueles que o acolheram a tornarem-se
discípulos evangelizadores.
O
Directório desdobra-se tocando várias temáticas que não fazem
outra coisa que não seja remeter para o objectivo de fundo.
Uma
primeira dimensão é a mistagogia que é apresentada através de
dois elementos complementares entre si: antes de mais, uma renovada
valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã; depois,
o amadurecimento progressivo do processo formativo em que é
envolvida toda a comunidade.
A
mistagogia é um caminho privilegiado a seguir, mas não é
facultativo no percurso catequético, permanece como um momento
obrigatório, uma vez que insere cada vez mais no mistério
acreditado e celebrado.
É
a consciência do primado do mistério que leva a catequese a não
isolar o querigma do seu contexto natural.
O
próprio anúncio da fé é sempre anúncio do mistério do amor de
Deus que se faz homem pela nossa salvação.
A
resposta não pode evitar o facto de acolher em si o mistério de
Cristo que permite iluminar o mistério da própria experiência
pessoal (cf. GS 22).
Uma
característica ulterior de novidade do Directório é a ligação
entre evangelização e catecumenato nas suas várias acepções (cf.
n. 62).
É
urgente levar a cabo a “conversão pastoral” para libertar a
catequese de algumas armadilhas que impedem a sua eficácia.
O
primeiro pode ser identificado no esquema escolar, segundo o qual a
catequese de iniciação cristã é vivida no paradigma da escola.
A
catequista substitui a professora, a sala da escola dá lugar à sala
de catequese, o calendário escolar é idêntico ao da catequese…
O
segundo é a mentalidade segundo a qual a catequese é feita em vista
da recepção de um sacramento.
É
óbvio que, quando a iniciação tiver terminado, se venha a criar um
vazio para a catequese.
Um
terceiro é a instrumentalização do sacramento por parte da
pastoral, pelo que os tempos do sacramento da Confirmação são
estabelecidos pela estratégia pastoral de não perder o pequeno
rebanho de jovens que ficou na paróquia e não pelo significado que
o sacramento possui em si mesmo na economia da vida cristã.
O
Papa Francisco escreveu que “anunciar Cristo significa mostrar que
crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas
também belo, capaz de preencher a vida de um novo esplendor e de uma
alegria profunda, mesmo no meio das provações.
Nesta
perspectiva, todas as expressões de verdadeira beleza podem ser
reconhecidas como uma vereda que ajuda a encontrar-se com o Senhor
Jesus …
Torna-se
necessário que a formação na via pulchritudinis esteja
inserida na transmissão da fé” (EG 167).
Uma
nota de particular valor inovador para a catequese pode ser expressa
pela via da beleza sobretudo para permitir conhecer o grande
património de arte, literatura e música que cada Igreja local
possui.
Neste
sentido, compreende-se por que razão o Directório colocou a via da
beleza como uma das “fontes” da catequese (cf. nn. 106-109).
Uma
última dimensão oferecida pelo Directório está no facto de ajudar
a inserir-se progressivamente no mistério da fé.
Esta
conotação não pode ser delegada apenas a uma dimensão da fé ou
da catequese.
A
teologia explora o mistério revelado com os instrumentos da razão.
A
liturgia celebra e evoca o mistério com a vida sacramental.
A
caridade reconhece o mistério do irmão que estende a mão.
Na
mesma linha, a catequese leva progressivamente a acolher e viver
globalmente o mistério na existência quotidiana.
O
Directório assume esta visão, quando pede que se exprima uma
catequese que saiba encarregar-se de manter unido o mistério, embora
articulando-o nas diversas fases de expressão.
O
mistério, quando é captado na sua realidade profunda, exige o
silêncio.
Uma
verdadeira catequese nunca terá a tentação de dizer tudo sobre o
mistério de Deus.
Pelo
contrário, deverá introduzir à vida da contemplação do mistério,
fazendo do silêncio a sua conquista.
Portanto,
o Directório apresenta a catequese querigmática não como uma
teoria abstracta, mas como um instrumento com forte valor
existencial.
Esta
catequese tem o seu ponto de força no encontro que permite que se
experimente a presença de Deus na vida de cada um.
Um
Deus próximo que ama e que segue as vicissitudes da nossa história
porque a encarnação do Filho o compromete directamente.
A
catequese deve envolver cada pessoa, catequista e catequizando, no
facto de experimentar esta presença e de se sentir envolvido na obra
da misericórdia.
Enfim,
uma catequese deste tipo permite descobrir que a fé é realmente o
encontro com uma pessoa, ainda antes de ser uma proposta moral, e que
o cristianismo não é uma religião do passado, mas um acontecimento
do presente.
Uma
experiência como esta favorece a compreensão da liberdade pessoal,
porque é fruto da descoberta de uma verdade que nos torna livres
(cf. Jo 8,31).
A
catequese que dá o primado ao querigma está nos antípodas de
qualquer imposição, nem que fosse a de uma evidência sem qualquer
possibilidade de fuga.
Com
efeito, a escolha de fé, ainda antes de considerar os conteúdos aos
quais aderir com o assentimento de cada um, é um acto de liberdade,
na medida em que se descobre que se é amado.
Neste
âmbito, é bom que se considere com atenção o que propõe o
Directório acerca da importância do acto de fé na sua dupla
articulação (cf. n. 18).
Durante
demasiado tempo a catequese centrou os seus esforços em dar a
conhecer os conteúdos da fé e na pedagogia com a qual os devia
transmitir, descurando infelizmente o momento mais determinante que é
o acto de cada um escolher a fé e dar o seu assentimento.
Fazemos
votos de que este novo Directório para a Catequese possa servir
verdadeiramente de ajuda e de apoio à renovação da catequese no
processo único de evangelização que, desde há dois mil anos, a
Igreja não se cansa de realizar, para que o mundo possa encontrar
Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem para nossa salvação.
D.
Rino
Fisichella
Fontes:
Santa Sé; Notícias do Vaticano; Conselho Pontifício para a
Promoção da Nova Evangelização; Secretariado Nacional da Educação
Cristã/Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé;
Rádio Renascença
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