Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 26 de junho de 2020

NOVO DIRECTÓRIO PARA A CATEQUESE


Foi apresentado ontem em Conferência de Imprensa pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização
   
   
Às 11H30 da manhã de ontem, no salão "João Paulo II" da Sala de Imprensa da Santa Sé, foi realizada uma Conferência de Imprensa para apresentar o Directório para a Catequese elaborado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e aprovado pelo Papa Francisco a 23 de Março de 2020.

Segundo D. Rino Fisichella, o documento nasceu da necessidade de levar em consideração "com grande realismo, a novidade que se apresenta, na tentativa de propor uma leitura dessa mesma novidade que envolvesse a catequese".
É por esta razão que o Directório apresenta "não apenas as problemáticas inerentes à cultura digital, mas sugere também os percursos a realizar para que a catequese se torne uma proposta que encontra o interlocutor que seja capaz de a compreender e de ver como se adequa ao seu mundo".

É urgente levar a cabo a “conversão pastoral” para libertar a catequese de algumas armadilhas que impedem a sua eficácia.
O primeiro pode ser identificado no esquema escolar, segundo o qual a catequese de iniciação cristã é vivida no paradigma da escola.
A catequista substitui a professora, a sala da escola dá lugar à sala de catequese, o calendário escolar é idêntico ao da catequese…”

A catequese deve estar intimamente unida à obra de evangelização e não pode prescindir dela.
Precisa de assumir em si as características próprias da evangelização, sem cair na tentação de se substituir a ela ou de querer impor à evangelização os seus pressupostos pedagógicos.
Nesta relação, o primado pertence à evangelização e não à catequese.”


A edição portuguesa do Directório para a Catequese vai ser apresentada nas Jornadas Nacionais de Catequistas no próximo mês de Outubro.




O cónego Luís Miguel Figueiredo Rodrigues, responsável pela Comissão Arquidiocesana para a Educação Cristã de Braga, analisa o novo Directório para a Catequese:






Conferência de Imprensa para a apresentação do Directório de Catequese, elaborado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, 25 de Junho de 2020

Intervenção de D. Rino Fisichella, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização


A publicação de um Directório para a Catequese representa um acontecimento feliz para a vida da Igreja.
Com efeito, pode constituir um desafio positivo para todos os que se dedicam ao grande empenho da catequese, uma vez que permite experimentar a dinâmica do movimento catequético que sempre teve uma presença significativa na vida da comunidade cristã.
O Directório para a Catequese é um documento da Santa Sé oferecido a toda a Igreja.
Necessitou de muito tempo e trabalho, e chega até nós como conclusão de uma vasta consulta internacional.
Hoje é apresentada a edição oficial em língua italiana.
No entanto, já estão prontas as traduções em espanhol (edição para a América Latina e para a Espanha), português (edição para o Brasil e para Portugal), inglês (edição para os EUA e para o Reino Unido), francês e polaco.
Dirige-se em primeiro lugar aos Bispos, primeiros catequistas entre o Povo de Deus, na medida em que são os primeiros responsáveis pela transmissão da fé (cf. n. 114).
Juntamente com eles são envolvidas as Conferências episcopais, com as respectivas Comissões para a catequese, para partilhar e elaborar um desejável projecto nacional que apoie o caminho de cada diocese (cf. n. 413).
No entanto, os mais directamente envolvidos no uso do Directório são os sacerdotes, os diáconos, as pessoas consagradas e os milhões de catequistas que, todos os dias, desempenham o seu ministério com gratuitidade, esforço e esperança nas diferentes comunidades.
A dedicação com que trabalham, sobretudo num momento de transição cultural como este, é sinal palpável de quanto o encontro com o Senhor pode transformar um catequista num genuíno evangelizador.

Desde o Concílio Vaticano II, este que apresentamos hoje é o terceiro Directório.
O primeiro de 1971, Directório Catequístico Geral, e o segundo de 1997, Directório Geral da Catequese, marcaram estes últimos cinquenta anos de história da catequese.
Estes textos desempenharam um papel primordial.
Constituíram uma ajuda importante para levar o caminho catequético a dar um passo decisivo, sobretudo através da renovação da metodologia e da instância pedagógica.
O processo de inculturação que caracteriza de modo particular a catequese e que, sobretudo nos nossos dias, obriga a ter uma atenção bastante particular exigiu a composição de um novo Directório.

A Igreja está diante de um grande desafio que se concentra na nova cultura com a qual se vai encontrando, a cultura digital.
Centrar a atenção num fenómeno que se impõe como global obriga todos os que têm responsabilidade da formação a evitar subterfúgios.
Diversamente do passado, quando a cultura estava limitada ao contexto geográfico, a cultura digital tem um valor que sente os efeitos da globalização em curso e determina o seu desenvolvimento.
Os instrumentos criados nesta década são a manifestação de uma transformação radical dos comportamentos que incidem sobretudo na formação da identidade pessoal e nas relações interpessoais.
A velocidade com que se modifica a linguagem, e com ela também as relações comportamentais, deixa vislumbrar um novo modelo de comunicação e de formação que toca inevitavelmente também a Igreja no complexo mundo da educação.
A presença das várias expressões eclesiais no vasto mundo da internet constitui certamente um facto positivo, mas a cultura digital vai muito para além disso.
Ela toca a raiz da questão antropológica decisiva em qualquer contexto formativo, como o da verdade e da liberdade.
O próprio facto de colocar esta problemática impõe que se verifique a adequação da proposta formativa, venha donde vier.
Ela torna-se, no entanto, um confronto imprescindível para a Igreja, em virtude da sua “competência” sobre o homem e a sua pretensão de verdade.

Talvez esta premissa fosse suficiente para demonstrar a necessidade de um novo Directório para a catequese.
Na época digital, vinte anos são comparáveis, sem exagero, a pelo menos meio século.
Daqui resultou a exigência de redigir um Directório que tivesse em conta, com grande realismo, a novidade que se apresenta, na tentativa de propor uma leitura dessa mesma novidade que envolvesse a catequese.
É por este motivo que o Directório apresenta não apenas as problemáticas inerentes à cultura digital, mas sugere também os percursos a realizar para que a catequese se torne uma proposta que encontra o interlocutor que seja capaz de a compreender e de ver como se adequa ao seu mundo.

No entanto, existe uma razão mais de ordem teológica e eclesial que convenceu a redigir este Directório.
O convite a viver cada vez mais a dimensão sinodal não pode deixar esquecer os últimos Sínodos que a Igreja viveu.
Em 2005 o Sínodo sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja; em 2008, A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja; em 2015, A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo; em 2018, Os jovens, a fé e o discernimento vocacional.
Como se pode observar, em todas estas assembleias, repetem-se algumas constantes que tocam de perto o tema da evangelização e da catequese, o que se pode verificar pelos documentos que se lhes seguiram.
De modo mais particular é forçoso referir-nos a dois acontecimentos que, de forma complementar, marcam a história desta última década no que se refere à catequese: o Sínodo sobre a Nova evangelização e a transmissão da fé, em 2012, com a consequente Exortação apostólica do Papa Francisco Evangelii gaudium, e o vigésimo quinto aniversário da publicação do Catecismo da Igreja Católica, ambos tocando directamente a competência do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.

A evangelização ocupa o primeiro lugar na vida da Igreja e no magistério quotidiano do Papa Francisco.
Não poderia ser de outro modo.
A evangelização é a tarefa que o Senhor Ressuscitado confiou à sua Igreja para ser no mundo de cada tempo o anúncio fiel do seu Evangelho.
Prescindir deste pressuposto equivaleria a transformar a comunidade cristã numa das muitas associações beneméritas, orgulhosa dos seus dois mil anos de história, mas não a Igreja de Cristo.
A perspectiva do Papa Francisco, nomeadamente, está em forte continuidade com os ensinamentos de São Paulo VI na Evangelii nuntiandi, de 1975.
Os dois não fazem outra coisa que não seja referir-se à riqueza que brotou do Vaticano II que, no que se refere à catequese, encontrou na Catechesi tradendae (1979) de São João Paulo II o seu ponto central.

Portanto, a catequese deve estar intimamente unida à obra de evangelização e não pode prescindir dela.
Precisa de assumir em si as características próprias da evangelização, sem cair na tentação de se substituir a ela ou de querer impor à evangelização os seus pressupostos pedagógicos.
Nesta relação, o primado pertence à evangelização e não à catequese.
Isto permite compreender por que razão, à luz da Evangelii gaudium, este Directório se qualifica por sustentar uma “catequese querigmática”.

O coração da catequese é o anúncio da pessoa de Jesus Cristo, que ultrapassa os limites de espaço e de tempo para se apresentar a cada geração como a novidade oferecida para alcançar o sentido da vida.
Nesta perspectiva, é indicada uma nota fundamental de que a catequese deve apropriar-se: a misericórdia.
O querigma é anúncio da misericórdia do Pai que vai ao encontro do pecador, não mais considerado como um excluído, mas como convidado privilegiado ao banquete da salvação que consiste no perdão dos pecados.
Se quisermos, é neste contexto que ganha força a experiência do catecumenato como experiência do perdão oferecido e da consequente vida nova de comunhão com Deus.

No entanto, a centralidade do querigma deve ser recebida em sentido qualitativo e não temporal.
Efectivamente, requer que esteja presente em todas as fases da catequese e de todas as catequeses.
É o “primeiro anúncio” que é feito sempre, porque Cristo é o único necessário.
A fé não é algo de óbvio que se recupera nos momentos de necessidade, mas é um acto de liberdade que compromete toda a vida.
Portanto, o Directório assume a centralidade do querigma que se exprime em sentido trinitário como compromisso de toda a Igreja.
A catequese, tal como é expressa pelo Directório, caracteriza-se por esta dimensão e pelas implicações que confere à vida das pessoas.
Neste horizonte, toda a catequese adquire um valor peculiar que se exprime no aprofundamento constante da mensagem evangélica.
Enfim, a catequese tem a finalidade de fazer alcançar o conhecimento do amor cristão que leva aqueles que o acolheram a tornarem-se discípulos evangelizadores.

O Directório desdobra-se tocando várias temáticas que não fazem outra coisa que não seja remeter para o objectivo de fundo.
Uma primeira dimensão é a mistagogia que é apresentada através de dois elementos complementares entre si: antes de mais, uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã; depois, o amadurecimento progressivo do processo formativo em que é envolvida toda a comunidade.
A mistagogia é um caminho privilegiado a seguir, mas não é facultativo no percurso catequético, permanece como um momento obrigatório, uma vez que insere cada vez mais no mistério acreditado e celebrado.
É a consciência do primado do mistério que leva a catequese a não isolar o querigma do seu contexto natural.
O próprio anúncio da fé é sempre anúncio do mistério do amor de Deus que se faz homem pela nossa salvação.
A resposta não pode evitar o facto de acolher em si o mistério de Cristo que permite iluminar o mistério da própria experiência pessoal (cf. GS 22).

Uma característica ulterior de novidade do Directório é a ligação entre evangelização e catecumenato nas suas várias acepções (cf. n. 62).
É urgente levar a cabo a “conversão pastoral” para libertar a catequese de algumas armadilhas que impedem a sua eficácia.
O primeiro pode ser identificado no esquema escolar, segundo o qual a catequese de iniciação cristã é vivida no paradigma da escola.
A catequista substitui a professora, a sala da escola dá lugar à sala de catequese, o calendário escolar é idêntico ao da catequese…
O segundo é a mentalidade segundo a qual a catequese é feita em vista da recepção de um sacramento.
É óbvio que, quando a iniciação tiver terminado, se venha a criar um vazio para a catequese.
Um terceiro é a instrumentalização do sacramento por parte da pastoral, pelo que os tempos do sacramento da Confirmação são estabelecidos pela estratégia pastoral de não perder o pequeno rebanho de jovens que ficou na paróquia e não pelo significado que o sacramento possui em si mesmo na economia da vida cristã.

O Papa Francisco escreveu que “anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de preencher a vida de um novo esplendor e de uma alegria profunda, mesmo no meio das provações.
Nesta perspectiva, todas as expressões de verdadeira beleza podem ser reconhecidas como uma vereda que ajuda a encontrar-se com o Senhor Jesus …
Torna-se necessário que a formação na via pulchritudinis esteja inserida na transmissão da fé” (EG 167).
Uma nota de particular valor inovador para a catequese pode ser expressa pela via da beleza sobretudo para permitir conhecer o grande património de arte, literatura e música que cada Igreja local possui.
Neste sentido, compreende-se por que razão o Directório colocou a via da beleza como uma das “fontes” da catequese (cf. nn. 106-109).

Uma última dimensão oferecida pelo Directório está no facto de ajudar a inserir-se progressivamente no mistério da fé.
Esta conotação não pode ser delegada apenas a uma dimensão da fé ou da catequese.
A teologia explora o mistério revelado com os instrumentos da razão.
A liturgia celebra e evoca o mistério com a vida sacramental.
A caridade reconhece o mistério do irmão que estende a mão.
Na mesma linha, a catequese leva progressivamente a acolher e viver globalmente o mistério na existência quotidiana.
O Directório assume esta visão, quando pede que se exprima uma catequese que saiba encarregar-se de manter unido o mistério, embora articulando-o nas diversas fases de expressão.
O mistério, quando é captado na sua realidade profunda, exige o silêncio.
Uma verdadeira catequese nunca terá a tentação de dizer tudo sobre o mistério de Deus.
Pelo contrário, deverá introduzir à vida da contemplação do mistério, fazendo do silêncio a sua conquista.

Portanto, o Directório apresenta a catequese querigmática não como uma teoria abstracta, mas como um instrumento com forte valor existencial.
Esta catequese tem o seu ponto de força no encontro que permite que se experimente a presença de Deus na vida de cada um.
Um Deus próximo que ama e que segue as vicissitudes da nossa história porque a encarnação do Filho o compromete directamente.
A catequese deve envolver cada pessoa, catequista e catequizando, no facto de experimentar esta presença e de se sentir envolvido na obra da misericórdia.
Enfim, uma catequese deste tipo permite descobrir que a fé é realmente o encontro com uma pessoa, ainda antes de ser uma proposta moral, e que o cristianismo não é uma religião do passado, mas um acontecimento do presente.
Uma experiência como esta favorece a compreensão da liberdade pessoal, porque é fruto da descoberta de uma verdade que nos torna livres (cf. Jo 8,31).

A catequese que dá o primado ao querigma está nos antípodas de qualquer imposição, nem que fosse a de uma evidência sem qualquer possibilidade de fuga.
Com efeito, a escolha de fé, ainda antes de considerar os conteúdos aos quais aderir com o assentimento de cada um, é um acto de liberdade, na medida em que se descobre que se é amado.
Neste âmbito, é bom que se considere com atenção o que propõe o Directório acerca da importância do acto de fé na sua dupla articulação (cf. n. 18).
Durante demasiado tempo a catequese centrou os seus esforços em dar a conhecer os conteúdos da fé e na pedagogia com a qual os devia transmitir, descurando infelizmente o momento mais determinante que é o acto de cada um escolher a fé e dar o seu assentimento.

Fazemos votos de que este novo Directório para a Catequese possa servir verdadeiramente de ajuda e de apoio à renovação da catequese no processo único de evangelização que, desde há dois mil anos, a Igreja não se cansa de realizar, para que o mundo possa encontrar Jesus de Nazaré, o Filho de Deus feito homem para nossa salvação.

D. Rino Fisichella



Fontes: Santa Sé; Notícias do Vaticano; Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização; Secretariado Nacional da Educação Cristã/Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé; Rádio Renascença



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