Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

IGREJA DE SANTA MARIA DO MARCO DE CANAVESES FEZ 20 ANOS

Inaugurado a 7 de Julho de 1996 o templo projectado pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira ainda está a ser pago pela comunidade local mas já precisa de obras de conservação e restauro
   
  
Nota Histórico-Artística

A Igreja de Santa Maria, paroquial da Freguesia de Santa Marinha de Fornos do Concelho de Marco de Canaveses é, também, a igreja de Siza.

Enquanto tal, isto é, como projecto e obra de um Arquitecto de excepção, ela incorpora um valor de exemplaridade incontornável, o qual tem logrado metamorfoseá-la em objecto de interesse científico, argumentos indubitavelmente atendíveis no quadro de uma patrimonialização em sede institucional-legal.
À semelhança do "génio do respectivo criador", critério genérico de apreciação para a aplicação da protecção conferida pelos instrumentos da classificação e inventariação , uma genialidade que, tendo embora uma autoria projectual definida - a que pertence ao Arquitecto Álvaro Siza Vieira - não deixa de integrar a genialidade de uma autoria difusa: referimo-nos a essa confluência de vontades maturada no transcurso do tempo e que ousou sonhar, com dimensão nova , o monumento religioso e litúrgico entretanto materializado.

Julgamos, por isso, oportuno dar conta do percurso da paróquia na busca do seu novo espaço cultural-devocional:

"[...] A 3 de Janeiro de 1973 o quinzenário local "Ecos do Marco de Canaveses" noticiava em primeira página a constituição duma comissão para construir uma nova igreja.
Foram recolhidos alguns donativos, mas o projecto nunca foi por diante.
Seria erguida no centro da vila, em terrenos da Quinta dos Murteirados. Precisamente no local onde, vinte e um anos mais tarde, nasceria a igreja de Siza.

O desenvolvimento urbano que se seguiu à Revolução de Abril (1974) acentuou definitivamente a necessidade de um templo mais amplo, mais adequado às reformas entretanto verificadas na liturgia e mais próximo do centro populacional.
Assim, em finais de 1988, a mudança de pároco e a motivação daí resultante, o apelo de renovação imposto pelos "novos" tempos" e a evidência da necessidade, conjugaram-se para o aparecimento de uma sensibilidade forte da qual resultaria a construção da nova igreja.

O processo de adesão e entusiasmo que, então, se gerou não é de fácil compreensão: a paróquia é relativamente pequena e de parcos recursos, a igreja a construir não seria "fácil e popular" e os custos previstos não eram nada animadores.
Por outro lado, o tecido sociológico do Marco não parecia ser muito consistente, pois ao núcleo urbano, constituído por pequenos comerciantes e serviços públicos, havia que ligar um importante núcleo de bairro e ainda uma parte tipicamente rural.

Quando as obras se iniciaram, a 10 de Abril de 1994, muitos ainda tinham dúvidas quanto ao sucesso do empreendimento.
Apesar disso, a grande maioria da população estava expectante, mas entusiasmada e unida em torno da sua obra.

Passados pouco mais de dois anos, a 7 de Julho de 1996, a igreja era inaugurada e, por vontade dos paroquianos, expressa em referendo, dedicada a Santa Maria.

Nesse dia não foi difícil perceber que todas as canseiras tinham sido recompensadas e que um enorme contributo para a renovação da arte sacra tinha sido dado por uma paróquia modesta, praticamente desconhecida e de escassos recursos materiais. […]"

In Igreja de Santa Maria - Marco de Canaveses. Marco de Canaveses: Paróquia de Santa Marinha de Fornos e Francisco Guedes, 1998


O Concílio do Vaticano II, na constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia, defende que a Igreja deve promover a arte do seu tempo, demonstrando confiança no tempo presente e nos múltiplos meios que a criatividade contemporânea tem à sua disposição.

Neste sentido, a igreja de Marco de Canavezes é um contributo importante para a arquitectura religiosa, e entende-se que seja considerada em Portugal como no estrangeiro, ponto de passagem incontornável para o(s) construtor(es) de igreja(s).
E é sob este ponto de vista que se percebem os vários prémios internacionais que lhe foram atribuídos - Prémio IberFAD de Arquitetura, em 1998, pelo Fomento de las Artes Decorativas de Barcelona e Prémio Internacional de Arquitetura Sacra, em 2000, pela Fundação Frate Sole -, bem como o destaque recebido no 4º Congresso Internacional Architettura e Liturgia nel Novecento, realizado em Veneza em 2006.


Os vinte anos da dedicação da Igreja de Santa Maria

No passado dia 10 de Julho o nosso bispo D. António celebrou os 20 anos da dedicação da igreja de Santa Maria.

Em entrevista à Agência Ecclesia o bispo do Porto considerou a comemoração uma oportunidade para a afirmação da “unidade e comunhão” da paróquia local.

Celebrar 20 anos é para agradecer também, para agradecer a esta comunidade que levou por diante este belíssimo projecto, e ao mesmo tempo para dar novas energias juntamente com o nosso pároco, para levarmos por diante o cumprimento digno das nossas responsabilidades financeiras que temos e para o concluir porque o projecto ainda não está concluído.”

Duas décadas depois, a obra ainda permanece em parte por pagar, cerca de 600 mil euros, que poderão ser regularizados num espaço de 25 anos, segundo um plano já aprovado.

No total foram pagos até agora 2,3 milhões de euros, uma verba reunida ao longo dos anos graças ao esforço “heróico” da comunidade católica local, lembrou D. António Francisco dos Santos.

Em causa está sobretudo o revestimento dos pórticos com mais de 10 metros que constituem a entrada principal do templo.

Com o passar do tempo, a igreja de Santa Maria, e também o centro paroquial ao lado, já acusam também algum desgaste, estando necessitados de várias obras de conservação e restauro.

A ideia, que está a ser trabalhada com o arquitecto Álvaro Siza Vieira, é concluir os trabalhos no templo até Outubro deste ano, a tempo da vinda à paróquia do presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, o cardeal Gianfranco Ravasi.

"Teremos as portas concluídas até finais de Outubro, para o grande congresso de arquitectura que vamos aqui efectuar, entre 31 de Outubro e 01 de Novembro, com a presença do cardeal Ravasi, de grandes críticos de arquitectura, e do próprio Álvaro Siza Vieira", revelou o padre Fernando Coutinho, pároco de Santa Marinha de Fornos.

No âmbito das comemorações dos 20 anos da dedicação da igreja de Santa Maria, em Marco de Canaveses, foi lançado um novo guião sobre o templo, a abertura de uma exposição de pintura e a criação de um novo selo a assinalar a efeméride.


Da entrevista de D. António, Bispo do Porto, à Agência Ecclesia


Celebrar 20 anos da construção desta igreja que é uma referência pela beleza do seu projecto, pelo talento do seu arquitecto, o arquitecto Álvaro Siza Vieira, e pelo envolvimento de toda a comunidade.”



Homilia de D. António na igreja de Santa Maria do Marco de Canaveses a 10 de Julho de 2016

1.Os evangelhos que se proclamam ao longo destes próximos domingos trazem-nos narrações e ensinamentos, a partir do encontro de várias pessoas com Jesus, que com Ele cruzaram no caminho para Jerusalém.

Hoje, S. Lucas fala-nos do sugestivo diálogo de um doutor da lei que interroga Jesus para o experimentar.
E desta iniciativa surge uma bela lição que a todos nos aproveita e um prático conselho, que a todos é útil.
No termo do encontro, já não é o doutor da lei que interroga Jesus, mas sim Jesus que questiona o doutor da lei.
À pergunta de Jesus sobre quem é o próximo do homem caído em desgraça e deixado à beira da estrada pelos salteadores, responde o doutor da lei: “O que teve compaixão dele” (cf. Luc 10 25,-37).
E a recomendação de Jesus não se fez esperar: “Então, vai e faz o mesmo” (Luc 10, 37).

Vim, hoje, ao vosso encontro, para rezarmos juntos e para celebrarmos a Eucaristia.
Somos uma comunidade congregada à volta do altar e reunida para escutar a Palavra de Deus e se alimentar do Corpo de Cristo, por nós entregue, e do Seu Sangue, por nós derramado, cumprindo o memorial vivo da Última Ceia de Jesus, no Cenáculo de Jerusalém.

Este momento é tempo de encontro com a família paroquial de Santa Marinha de Fornos, no coração da cidade do Marco de Canaveses e encontro, também, com a memória abençoada e com o testemunho cristão dos nossos antepassados, que ao longo da história foram edificando templos cristãos, em cada tempo e em cada lugar.

A obra que, há vinte anos, D. Júlio Tavares Rebimbas dedicou a Deus para ser templo cristão, constituiu-se, agora, lugar sagrado, onde Deus diariamente se reúne com o Seu povo.

Saúdo-vos, irmãos e irmãs, desta Paróquia de Santa Marinha de Fornos, no Marco.
Foi para vós e com a vossa fecunda generosidade que este templo foi pensado e concebido, projectado e construído.
Sei do sonho sublime, embalado desde o início, da ousadia corajosa do projecto, da maestria do seu arquitecto e da persistente entrega e reconhecido zelo dos sacerdotes que aqui foram párocos neste arco do tempo.
Damos graças a Deus!

2. Ao evocarmos o dia em que dedicámos a Deus este templo sagrado e consagrámos o altar desta igreja matriz da cidade do Marco queremos lembrar que ela é para nós, a partir daí, lugar da celebração da fé e dos sacramentos, casa da família cristã e escola de comunhão de toda a paróquia.

Rezamos, aqui, hoje, para que, iluminados pela beleza impressionante da luz natural, que de Deus nos vem, e olhando através da janela rasgada na parede larga voltada para a cidade, de onde se vê o horizonte da terra e do céu que nos envolvem, se confirme a nossa fé, se revigore a nossa esperança e se aumente o nosso amor a Deus e o nosso serviço à Humanidade.

Sabemos todos que não é apenas o esforço humano, o avanço científico e o progresso técnico que trazem luz, esperança e futuro ao mundo.
Mas sabemos, igualmente, como é bom estar presentes nesta vastíssima geografia da cultura, do talento e do engenho humanos para abrir novas clareiras ao diálogo entre a fé e a razão e estabelecer pontes entre o culto e a cultura.
Só assim daremos lugar à beleza, que em nós mora, como caminho de aproximação de Deus e faremos da nossa vida lugares de beleza, como nos pedia o Papa Bento XVI, em 12 de maio de 2010, no Centro Cultural de Belém.

A fé é uma chama pequena, minúscula, mas é sempre mais forte do que a escuridão, que se vive no nosso tempo de crise do pensamento, de fragilidade das instituições e de colapso de valores.
Esta Igreja nova é prova desta chama de luz, que devemos fazer brilhar para que um amanhã novo de fé, de esperança e de amor comece a irromper no horizonte da nossa terra e no coração das suas gentes.

Sem nunca se afastar do traço inicial da sua primeira finalidade que consiste em ser templo cristão para uma comunidade que reza e cresce, ela constitui um pólo aglutinador entre a fé e a procura da beleza nas sendas do talento e da arte, que são, também, caminho de encontro com Deus.

Aqui está presente o talento internacionalmente reconhecido e universalmente respeitado do seu autor, o arquitecto Álvaro Siza Vieira, que assim vincula o seu nome para sempre à nossa Terra e nos honra a todos nós.

Cumpre-nos, depois de tantos e demorados anos de esforços heróicos, retomarmos forças para levarmos por diante e concluirmos tão audacioso projecto.
Aqui estamos todos, para, com o nosso Pároco, com a colaboração determinada de colaboradores incansáveis, com a generosidade nunca esgotada no coração dos crentes das Terras de Canaveses e com a compreensão das autoridades, instituições e empresas locais cumprirmos dignamente os encargos assumidos, para que a Igreja aqui construída irradie a beleza da fé e a alegria da comunhão em todos os horizontes desta nova cidade.
Esta igreja é sinal cristão bem visível a dizer-nos que aqui habita o Deus de Jesus Cristo.
Bastará uma centelha de confiança e uma semente de generosidade, por mais pequenas que sejam, para que também, a partir daqui, se iluminem de fé e brilhem de júbilo a Cidade do Marco e a Igreja do Porto.

A Igreja não se abre apenas aos que entram pela grande porta que nos acolhe à entrada e nos recebe no interior amplo, belo e digno deste templo, onde Deus habita e a comunidade cristã se congrega.
A Igreja abre-se, também, para o exterior, a novos átrios de cultura e a criativos caminhos de missão, franqueados a todos, sem excepção, para acolher os que procuram Deus, de tantas formas e por caminhos tão diversos.
Percebemos que, daqui, se vê, com um olhar aberto e lúcido, o mundo a evangelizar e se pode dialogar, de maneira nova, com a cultura do nosso tempo.

Irmãos e irmãs: edifiquemos, também nós, com zelo renovado, alento novo, entusiasmo acrescido e abertura à missão evangelizadora a Igreja de pedras vivas, que todos somos desde o baptismo.

Que esta Igreja matriz, situada no coração desta jovem cidade do Marco, nos inspire este jeito humilde, sereno, compassivo e dialogante de acolher e conviver como irmãos e nos incentive este zelo evangelizador e missionário da Igreja, aberta ao mundo, nestes tempos novos em que vivemos o Jubileu da Misericórdia, a que o Papa Francisco nos convoca.

Hoje somos, também nós, convocados para celebrar na Sé do Porto - Igreja mãe de todas as igrejas da Diocese a ordenação de cinco novos sacerdotes e de quatro diáconos.
Demos graças a Deus por eles e com eles! Eles ajudam-nos a compreender que somos chamados a ser pedras vivas do templo do Senhor e servidores incansáveis, disponíveis e generosos da sua Igreja.


3. Que Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, a quem quisestes dedicar esta nova Igreja e constituí-la nossa padroeira, nos abençoe e proteja com a sua intercessão.

Marco de Canaveses, igreja de Santa Maria, 10 de Julho de 2016
António, Bispo do Porto











Fontes: Direcção-Geral do Património Cultural; Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura; Agência Ecclesia; Diocese do Porto


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