Todos
recordamos as frases do Papa Francisco reproduzidas na abertura dos
noticiários das passadas Segunda e Terça-feira e retiradas do que
afirmou na Conferência de Imprensa dada no voo de Manila para Roma.
Para
melhor compreendermos as afirmações do Santo Padre, reproduzimos
duas das questões e respectivas respostas.
Questão
colocada por
Jan-Christoph Kitzler:
Obrigado,
Santo Padre. Eu gostaria de voltar brevemente ao encontro que teve
com as famílias. Lá falou da «colonização ideológica».
Poder-nos-ia explicar um pouco melhor a expressão? Depois,
referiu-se ao Papa Paulo VI, falando dos casos particulares que são
importantes na pastoral das famílias. Pode dar-nos alguns exemplos
destes casos particulares e, quem sabe, dizer-nos mesmo se há
necessidade de abrir as estradas, alargar o corredor destes casos
particulares?
Papa
Francisco:
Quanto
à colonização ideológica, direi apenas um exemplo que eu mesmo
constatei.
Vinte
anos atrás, em 1995, uma Ministra da Educação pedira um grande
empréstimo para construir escolas para os pobres.
Deram-lhe
o empréstimo com a condição de que, nas escolas, houvesse um livro
para as crianças de certo grau de escolaridade.
Era
um livro escolar, um livro didacticamente bem preparado, onde se
ensinava a teoria do género.
Esta
senhora precisava do dinheiro do empréstimo, mas havia aquela
condição.
Sagaz,
disse que sim e fez preparar outro livro, tendo dado os dois e assim
resolveu o problema...
Esta
é a colonização ideológica: invadem um povo com uma ideia que não
tem nada a ver com o povo: com grupos do povo, sim; mas não com o
povo.
E
colonizam o povo com uma ideia que altera ou quer alterar uma
mentalidade ou uma estrutura.
Durante
o Sínodo, os bispos africanos lamentavam-se disto mesmo: que, para
certos empréstimos, se imponham determinadas condições.
Limito-me
a dizer este caso que vi.
Porque
falo de «colonização ideológica»?
Porque
agarram-se precisamente à necessidade dum povo: aproveitam-se das
crianças para ali entrar e consolidar-se.
Mas
isto não é novo.
Fizeram
o mesmo as ditaduras do século passado; entraram com a sua doutrina.
Pensai
nos «Balilla», pensai na Juventude Hitleriana...
Colonizaram
o povo; queriam fazê-lo.
Mas,
quanto sofrimento!
Os
povos não devem perder a liberdade.
O
povo tem a sua cultura, a sua história; cada povo tem a sua cultura.
Mas,
quando chegam condições impostas pelos impérios colonizadores,
procuram fazer com que os povos percam a sua identidade para se criar
uniformidade.
Esta
é a globalização da esfera: todos os pontos são equidistantes do
centro.
Mas,
a verdadeira globalização – como gosto de dizer – não é a da
esfera.
É
importante globalizar, não como a esfera, mas como o poliedro, isto
é, que cada povo, cada parte mantenha a sua identidade, o seu ser,
sem acabar colonizada ideologicamente.
Estas
são as «colonizações ideológicas».
Há
um livro (desculpai, se faço publicidade!), há um livro intitulado
Lord of the World [Senhor do Mundo].
Talvez
inicialmente o estilo nos pareça um pouco pesado, porque foi escrito
no ano 1907, em Londres; naquela época, o escritor viu este drama da
colonização ideológica e descreve-o no livro.
O
autor é Benson; escreveu-o em 1907, recomendo-vos a sua leitura.
Lendo-o,
compreendereis bem o que quero dizer com «colonização ideológica».
Esta
era a primeira questão. A segunda: Que queria eu dizer de Paulo VI?
É
certo que a abertura à vida é uma condição do sacramento do
Matrimónio.
Um
homem não pode dar o sacramento à mulher nem a mulher ao homem, se
ambos não estão de acordo sobre este ponto: estar abertos à vida.
Tanto
é assim que, se se puder provar que um tal ou uma tal se casou com a
intenção de não estar aberto à vida, aquele matrimónio é nulo;
a falta de abertura à vida é causa de nulidade matrimonial.
Paulo
VI estudou isto com uma comissão: como proceder para ajudar tantos
casos, tantos problemas, problemas importantes que dificultam o amor
da família.
Problemas
de todos os dias.
Muitos,
muitos... Mas era qualquer coisa de mais grave.
A
recusa de Paulo VI não incidia sobre os problemas pessoais, a
propósito dos quais dirá depois aos confessores para serem
misericordiosos e compreenderem as situações e perdoarem, isto é,
serem misericordiosos, compreensivos.
Mas,
ele olhava para o neomalthusianismo universal em expansão.
E
como se reconhece este neomalthusianismo?
É
a natalidade abaixo de 1% na Itália; e o mesmo em Espanha.
Aquele
neomalthusianismo que visava o controle da humanidade pelas grandes
potências.
Isto
não significa que o cristão deve fazer filhos em série.
Há
alguns meses, numa paróquia, censurei uma mulher porque estava
grávida do oitavo depois de sete cesarianas.
«Mas
a senhora quer deixar sete órfãos?» Isto é tentar a Deus.
Fala-se
de paternidade responsável.
Este
é o caminho: a paternidade responsável.
Mas
aquilo que eu queria dizer era que Paulo VI não tivera uma visão
antiquada, fechada.
Não.
Foi um profeta, que daquele modo nos disse: cuidado com o
neomalthusianismo que está a chegar.
Era
isto que eu queria dizer. Obrigado.
Questão
colocada por Cristoph
Schmidt:
Santo
Padre, antes de mais nada queria dizer-lhe muito obrigado por todos
os momentos tão impressionantes desta semana. É a primeira vez que
o acompanho e gostaria de lhe dizer mil vezes obrigado. A minha
pergunta: O Santo Padre falou da multidão de crianças nas
Filipinas, da sua alegria por haver assim tantas crianças. Mas,
segundo as sondagens, a maioria dos filipinos pensa que o enorme
crescimento da população filipina é uma das razões mais
importantes para a pobreza imensa do país, já que, em média, uma
mulher, nas Filipinas, dá à luz mais de três filhos na sua vida, e
a posição católica relativamente à contracepção parece ser uma
das poucas questões em que um grande número de pessoas nas
Filipinas não está de acordo com a Igreja. Que pensa disto?
Papa
Francisco:
Creio
que o número de três por família, mencionado pelo senhor, seja
importante – de acordo com o que dizem os peritos – para manter a
população. Três por casal.
Quando
se desce abaixo deste nível, acontece o outro extremo, como, por
exemplo, na Itália onde ouvi dizer (não sei se é verdade) que, em
2024, não haverá dinheiro para pagar aos reformados.
A
diminuição da população.
Por
isso a palavra-chave para responder é esta expressão que usa sempre
a Igreja, e eu também: «paternidade responsável».
Como
se consegue isto?
Com
o diálogo. Cada pessoa, com o seu pastor, deve procurar o modo como
fazer esta paternidade responsável.
Aquele
exemplo, que mencionei há pouco, de uma mulher que esperava o oitavo
filho e tinha sete com partos de cesariana: isto é uma
irresponsabilidade.
«Não!
Eu confio em Deus».
«Mas
atenção! Deus dá-te os meios; sê responsável».
Crêem
alguns – desculpem a frase – que, para ser bons católicos, devem
ser como coelhos. Não.
Paternidade
responsável.
Isto
é claro e por isso, na Igreja, há os movimentos matrimoniais, há
os especialistas no assunto, há os pastores, e investiga-se.
Eu
conheço muitas e muitas soluções lícitas, que serviram de ajuda
para o efeito.
Mas
fez bem em mo dizer.
Há
ainda outra coisa curiosa, que é diversa mas está relacionada com
isto.
Para
as pessoas mais pobres, um filho é um tesouro.
É
verdade que aqui se deve ser prudente.
Mas,
para eles, um filho é um tesouro.
Deus
sabe como ajudá-los.
Talvez
alguns não sejam prudentes nisto, é verdade.
Paternidade
responsável.
Mas
é preciso também ver a generosidade daquele pai e daquela mãe que
vêem em cada criança um tesouro.
Fonte:
Santa Sé
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