Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

MATERNIDADE E PATERNIDADE RESPONSÁVEL


Todos recordamos as frases do Papa Francisco reproduzidas na abertura dos noticiários das passadas Segunda e Terça-feira e retiradas do que afirmou na Conferência de Imprensa dada no voo de Manila para Roma.



Para melhor compreendermos as afirmações do Santo Padre, reproduzimos duas das questões e respectivas respostas.


Questão colocada por Jan-Christoph Kitzler:
Obrigado, Santo Padre. Eu gostaria de voltar brevemente ao encontro que teve com as famílias. Lá falou da «colonização ideológica». Poder-nos-ia explicar um pouco melhor a expressão? Depois, referiu-se ao Papa Paulo VI, falando dos casos particulares que são importantes na pastoral das famílias. Pode dar-nos alguns exemplos destes casos particulares e, quem sabe, dizer-nos mesmo se há necessidade de abrir as estradas, alargar o corredor destes casos particulares?

Papa Francisco:

Quanto à colonização ideológica, direi apenas um exemplo que eu mesmo constatei.
Vinte anos atrás, em 1995, uma Ministra da Educação pedira um grande empréstimo para construir escolas para os pobres.
Deram-lhe o empréstimo com a condição de que, nas escolas, houvesse um livro para as crianças de certo grau de escolaridade.
Era um livro escolar, um livro didacticamente bem preparado, onde se ensinava a teoria do género.
Esta senhora precisava do dinheiro do empréstimo, mas havia aquela condição.
Sagaz, disse que sim e fez preparar outro livro, tendo dado os dois e assim resolveu o problema...
Esta é a colonização ideológica: invadem um povo com uma ideia que não tem nada a ver com o povo: com grupos do povo, sim; mas não com o povo.
E colonizam o povo com uma ideia que altera ou quer alterar uma mentalidade ou uma estrutura.
Durante o Sínodo, os bispos africanos lamentavam-se disto mesmo: que, para certos empréstimos, se imponham determinadas condições.
Limito-me a dizer este caso que vi.
Porque falo de «colonização ideológica»?
Porque agarram-se precisamente à necessidade dum povo: aproveitam-se das crianças para ali entrar e consolidar-se.
Mas isto não é novo.
Fizeram o mesmo as ditaduras do século passado; entraram com a sua doutrina.
Pensai nos «Balilla», pensai na Juventude Hitleriana...
Colonizaram o povo; queriam fazê-lo.
Mas, quanto sofrimento!
Os povos não devem perder a liberdade.
O povo tem a sua cultura, a sua história; cada povo tem a sua cultura.
Mas, quando chegam condições impostas pelos impérios colonizadores, procuram fazer com que os povos percam a sua identidade para se criar uniformidade.
Esta é a globalização da esfera: todos os pontos são equidistantes do centro.
Mas, a verdadeira globalização – como gosto de dizer – não é a da esfera.
É importante globalizar, não como a esfera, mas como o poliedro, isto é, que cada povo, cada parte mantenha a sua identidade, o seu ser, sem acabar colonizada ideologicamente.
Estas são as «colonizações ideológicas».
Há um livro (desculpai, se faço publicidade!), há um livro intitulado Lord of the World [Senhor do Mundo].
Talvez inicialmente o estilo nos pareça um pouco pesado, porque foi escrito no ano 1907, em Londres; naquela época, o escritor viu este drama da colonização ideológica e descreve-o no livro.
O autor é Benson; escreveu-o em 1907, recomendo-vos a sua leitura.
Lendo-o, compreendereis bem o que quero dizer com «colonização ideológica».

Esta era a primeira questão. A segunda: Que queria eu dizer de Paulo VI?
É certo que a abertura à vida é uma condição do sacramento do Matrimónio.
Um homem não pode dar o sacramento à mulher nem a mulher ao homem, se ambos não estão de acordo sobre este ponto: estar abertos à vida.
Tanto é assim que, se se puder provar que um tal ou uma tal se casou com a intenção de não estar aberto à vida, aquele matrimónio é nulo; a falta de abertura à vida é causa de nulidade matrimonial.
Paulo VI estudou isto com uma comissão: como proceder para ajudar tantos casos, tantos problemas, problemas importantes que dificultam o amor da família.
Problemas de todos os dias.
Muitos, muitos... Mas era qualquer coisa de mais grave.
A recusa de Paulo VI não incidia sobre os problemas pessoais, a propósito dos quais dirá depois aos confessores para serem misericordiosos e compreenderem as situações e perdoarem, isto é, serem misericordiosos, compreensivos.
Mas, ele olhava para o neomalthusianismo universal em expansão.
E como se reconhece este neomalthusianismo?
É a natalidade abaixo de 1% na Itália; e o mesmo em Espanha.
Aquele neomalthusianismo que visava o controle da humanidade pelas grandes potências.
Isto não significa que o cristão deve fazer filhos em série.
Há alguns meses, numa paróquia, censurei uma mulher porque estava grávida do oitavo depois de sete cesarianas.
«Mas a senhora quer deixar sete órfãos?» Isto é tentar a Deus.
Fala-se de paternidade responsável.
Este é o caminho: a paternidade responsável.
Mas aquilo que eu queria dizer era que Paulo VI não tivera uma visão antiquada, fechada.
Não. Foi um profeta, que daquele modo nos disse: cuidado com o neomalthusianismo que está a chegar.
Era isto que eu queria dizer. Obrigado.


Questão colocada por Cristoph Schmidt:
Santo Padre, antes de mais nada queria dizer-lhe muito obrigado por todos os momentos tão impressionantes desta semana. É a primeira vez que o acompanho e gostaria de lhe dizer mil vezes obrigado. A minha pergunta: O Santo Padre falou da multidão de crianças nas Filipinas, da sua alegria por haver assim tantas crianças. Mas, segundo as sondagens, a maioria dos filipinos pensa que o enorme crescimento da população filipina é uma das razões mais importantes para a pobreza imensa do país, já que, em média, uma mulher, nas Filipinas, dá à luz mais de três filhos na sua vida, e a posição católica relativamente à contracepção parece ser uma das poucas questões em que um grande número de pessoas nas Filipinas não está de acordo com a Igreja. Que pensa disto?

Papa Francisco:

Creio que o número de três por família, mencionado pelo senhor, seja importante – de acordo com o que dizem os peritos – para manter a população. Três por casal.
Quando se desce abaixo deste nível, acontece o outro extremo, como, por exemplo, na Itália onde ouvi dizer (não sei se é verdade) que, em 2024, não haverá dinheiro para pagar aos reformados.
A diminuição da população.
Por isso a palavra-chave para responder é esta expressão que usa sempre a Igreja, e eu também: «paternidade responsável».
Como se consegue isto?
Com o diálogo. Cada pessoa, com o seu pastor, deve procurar o modo como fazer esta paternidade responsável.
Aquele exemplo, que mencionei há pouco, de uma mulher que esperava o oitavo filho e tinha sete com partos de cesariana: isto é uma irresponsabilidade.
«Não! Eu confio em Deus».
«Mas atenção! Deus dá-te os meios; sê responsável».
Crêem alguns – desculpem a frase – que, para ser bons católicos, devem ser como coelhos. Não.
Paternidade responsável.
Isto é claro e por isso, na Igreja, há os movimentos matrimoniais, há os especialistas no assunto, há os pastores, e investiga-se.
Eu conheço muitas e muitas soluções lícitas, que serviram de ajuda para o efeito.
Mas fez bem em mo dizer.
Há ainda outra coisa curiosa, que é diversa mas está relacionada com isto.
Para as pessoas mais pobres, um filho é um tesouro.
É verdade que aqui se deve ser prudente.
Mas, para eles, um filho é um tesouro.
Deus sabe como ajudá-los.
Talvez alguns não sejam prudentes nisto, é verdade.
Paternidade responsável.
Mas é preciso também ver a generosidade daquele pai e daquela mãe que vêem em cada criança um tesouro.


Fonte: Santa Sé


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