Cónego
Rui Osório
Somos
delicados quando dizemos que "velhos são os trapos", não
as pessoas de idade avançada de quem até familiares se descartam
com a desculpa de que não conseguem cuidar deles.
Se
há quem seja esmerado nas atenções, não falta quem, por incúria
ou cansaço, não saiba curar a solidão da velhice abandonada ou
incompreendida.
A
agência de informação "Aleteia" conta a parábola de uma
senhora a quem as enfermeiras julgavam tão senil que se consentiam
criticar-lhe o comportamento como se não as ouvisse.
Quando
morreu, encontraram a carta que as deixou de queixo caído.
Registo
em síntese a mensagem para deixarmos de lavar as mãos como Pilatos
e aprendermos a respeitar as pessoas idosas, a quem a nossa
indiferença as vai matando aos poucos.
"Que
vêem, enfermeiras, quando me olham?
Uma
velha rabugenta com hábitos estranhos e olhar distante?
Aquela
que deixa a comida cair dos cantos dos lábios e nunca responde a
quem dizem alto: 'poderia ao menos tentar'?
Aquela
que perde sempre alguma coisa, a meia ou o sapato?
Que
vos deixa fazer o que querem e que passa grande parte dos dias no
banheiro ou a comer?
É
isso que vêem?
Pois
então, enfermeiras, abram os olhos porque não me estão a ver bem.
Vou
dizer-vos quem sou."
"Sou
uma garota de 10 anos, com pai e mãe, irmãos e irmãs, que se amam.
Uma
menina de 16 anos com asas nos pés, que sonha em breve encontrar o
amor.
Uma
noiva de 20 anos, com o coração aos saltos, recordando os votos que
prometeu cumprir.
Com
25 anos, já tem os seus próprios filhos, a quem vai ajudar para que
encontrem um lar seguro.
Uma
mulher de 30 anos, cujos filhos crescem depressa, unidos com laços
que devem durar.
Aos
40, os meus filhos jovens cresceram e fizeram-se à vida.
O
meu marido está comigo para que eu não fique triste.
Aos
50, põem-me bebés no meu colo, filhos dos meus filhos.
Eu
e o meu amor voltamos a conhecer crianças.
Aproximam-se
dias negros.
O
meu marido morreu.
Olho
para o futuro e estremeço.
Penso
nos anos e no amor que conheci.
Agora
sou uma mulher velha.
A
natureza é terrível.
Rio-me
da minha idade como uma idiota.
O
meu corpo está frágil.
Perdi
a graça e a força.
Só
existe uma pedra onde batia o coração.
Mas,
dentro desta velha carcaça, ainda vive uma jovem mulher.
Dilata-se
o meu coração maltratado.
Lembro-me
das alegrias e das tristezas.
Vivo
e amo todos os dias.
Penso
nos anos, tão poucos e que passaram tão rápidos.
Aceito
que nada é para sempre."
"Enfermeiras,
abram os olhos e vejam claro.
Não
chamem resmungonas às idosas.
Olhem
mais de perto.
Por
favor, vejam-me bem!"
Pessoa
alguma é inútil; tem passado, presente e futuro.
Os
idosos merecem todo o carinho do mundo.
A
indiferença de quem tem obrigação de os respeitar e acarinhar
endurece-lhes o coração e apressa-lhes a morte!
Cónego
Rui Osório
Fonte:
Voz Portucalense, 28 de Setembro de 2016
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