Teve início às 13H00 de ontem com a Adoração Eucarística
e prossegue hoje
Ponto
alto deste Jubileu: a catequese que o Papa Francisco dirigiu esta
manhã aos Voluntários e Operadores da Misericórdia
Este
Jubileu precede a Canonização de Madre Teresa de Calcutá que se
efectuará amanhã, Domingo dia 4, às 9H30.
Na
catequese desta manhã dirigida aos cerca de 24.000 Operadores da
Misericórdia, na Praça de S. Pedro, disse o Papa Francisco:
“Vós
sois os artesãos da misericórdia e a mão de Cristo que alcança
todos"
JUBILEU
EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA
CATEQUESE
DO PAPA FRANCISCO PARA OS OPERADORES DA MISERICÓRDIA
Praça
São Pedro
Sábado,
3 de Setembro de 2016
Escutamos
o hino ao amor que o apóstolo Paulo escreveu para a comunidade de
Corinto, e que se apresenta como uma das páginas mais belas e
exigentes para o testemunho da nossa fé (cf. 1 Cor 13,1-13).
Foram
muitas as vezes em que São Paulo falou do amor e da fé em seus
escritos; mesmo assim, neste texto, é-nos oferecido algo
extraordinariamente grande e original.
Ele
afirma que, ao contrário da fé e da esperança, o amor «jamais
acabará» (v. 8): é para sempre.
Este
ensinamento deve ser para nós uma certeza inabalável; o amor de
Deus nunca diminuirá nas nossas vidas e na história do mundo.
É
um amor que permanece para sempre jovem, activo, dinâmico
capaz de atrair para si de modo incomparável.
É
um amor fiel que não trai, apesar das nossas contradições.
É
um amor fecundo que gera e conduz para além da nossa preguiça.
É
desse amor que todos nós somos testemunhas.
O
amor de Deus, de facto, vem ao nosso encontro.
É
como um rio na cheia que nos arrasta, mas sem nos anular; muito pelo
contrário, é uma condição de vida: «se não tivesse amor, eu
nada seria» - como diz São Paulo (v. 2).
Quanto
mais nos deixamos envolver por este amor, mais a nossa vida se
regenera.
Deveríamos
verdadeiramente dizer com toda a nossa força: sou amado, por isso
existo!
O
amor de que o Apóstolo fala não é algo abstracto e vago; pelo
contrário, é um amor que se vê, se toca e se experimenta em
primeira pessoa.
A
maior e mais expressiva forma desse amor é Jesus.
Toda
a sua pessoa e a sua vida não são outra coisa senão a manifestação
concreta do amor do Pai, chegando até o ponto culminante: «A prova
de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos
ainda pecadores» (Rm 5,8).
Isto
é amor!
Não
são palavras, é amor. Desde o Calvário, onde o sofrimento do Filho
de Deus atinge o seu ponto mais elevado, brota a fonte do amor que
apaga todo o pecado e que recria tudo numa vida nova.
Trazemos
sempre connosco, de modo indelével, esta certeza da fé: Cristo «me
amou e se entregou por mim» (Gl 2,20).
Esta
é a grande certeza: Cristo me amou e se entregou por mim, por ti,
por todos, por cada um de nós!
Nada
e ninguém pode nos separar do amor de Deus (cf. Rm 8,35-39).
O
amor, portanto, é a expressão máxima de toda a vida e que nos
permite existir!
Diante
deste conteúdo tão essencial da fé, a Igreja nunca poderia
permitir-se fazer como fizeram o sacerdote e o levita com o homem
deixado meio morto por terra (cf. Lc 10,25-36).
Não
é possível desviar o olhar e tomar outra direcção para não ver
as muitas formas de pobreza que pedem misericórdia.
Isso
de tomar outra direcção para não olhar a fome, as doenças, as
pessoas exploradas...
Isso
é um pecado grave!
Também
é um pecado moderno; é um pecado dos dias de hoje!
Nós
cristãos não podemos nos permitir uma tal coisa.
Não
seria digno da Igreja nem de um cristão “passar ao largo”,
supondo que se pode ter a consciência tranquila só por termos
rezado ou porque fui à Missa no Domingo.
Não!
O
Calvário é sempre actual; de nenhum modo deixou de existir, nem
permanece como uma bela pintura nas nossas igrejas.
O
vértice de “com-paixão”, de onde brota o amor de Deus diante da
miséria humana, ainda fala aos nossos dias e impele sempre a dar
novos sinais de misericórdia.
Nunca
me cansarei de dizer que a misericórdia de Deus não é uma ideia
bonita, mas uma acção concreta.
Não
existe misericórdia sem concretização.
A
misericórdia não é fazer um bem “de passagem”; significa
comprometer-se onde está o mal, onde há doença, onde há fome.
Onde
há tantas explorações humanas.
E
até mesmo a misericórdia humana não é autêntica – ou seja
humana e misericórdia - enquanto não alcança a concretização no
seu agir diário.
A
exortação do Apóstolo João permanece sempre válida: «Filhinhos,
não amemos só com palavras e de boca, mas com acções e de
verdade!» (1 Jo 3,18).
De
facto, a verdade da misericórdia se confirma nos nossos gestos de
cada dia, que tornam visível a acção de Deus no meio de nós.
Irmãos
e irmãs, vós representais aqui o grande e variado mundo do
voluntariado.
Sois
justamente vós uma das realidades mais preciosas da Igreja que,
muitas vezes no silêncio e escondidos, dais forma e visibilidade à
misericórdia.
Vós
sois artesãos de misericórdia: com as vossas mãos, com os
vossos olhos, com a vossa escuta, com a vossa proximidade, com as
vossas carícias... sois artesãos!
Exprimis
o desejo - entre os mais belos no coração do homem: fazer com que a
pessoa que sofre se sinta amada.
Em
diferentes condições de carência e nas necessidades de tantas
pessoas, a vossa presença é a mão de Cristo estendida que alcança
a todos.
Sois
a mão de Cristo estendida: já pensastes nisso?
A
credibilidade da Igreja passa de forma convincente através do vosso
serviço com as crianças abandonadas, os doentes, os pobres sem
comida e trabalho, os idosos, os sem-abrigo, os prisioneiros,
refugiados e migrantes, as pessoas afectadas por desastres
naturais... enfim, onde quer que exista um pedido de ajuda, ali chega
o vosso testemunho activo e desinteressado.
Tornais
visível a lei de Cristo: levar os pesos uns dos outros (cf. Gal
6,2, Jo 13,34).
Queridos
irmãos e irmãs, tocais a carne de Cristo com as vossas mãos: não
esqueçais disso.
Tocais
a carne de Cristo com as vossas mãos.
Estai
sempre prontos para a solidariedade, fortes na proximidade,
diligentes para despertar alegria e convincentes na consolação.
O
mundo precisa de sinais concretos de solidariedade, especialmente
diante da tentação da indiferença, e exige pessoas capazes de
opor-se com as suas vidas o individualismo: pensar só a si mesmo,
ignorando os irmãos em necessidade.
Estai
sempre contentes e cheios de alegria pelo vosso serviço, mas nunca
fazei dele um motivo de presunção que leva a se sentir melhor do
que os outros.
Em
vez disso, que a vossa obra de misericórdia seja a prolongação
humilde e eloquente de Jesus Cristo, que continua a se curvar e
cuidar daqueles que sofrem.
O
Amor, de facto, «edifica» (1 Cor 8,1) e dia após dia
permite que as nossas comunidades sejam um sinal da comunhão
fraterna.
Conversai
com o Senhor sobre essas coisas.
Chamai-O.
Fazei
como a Sister Preyma, como nos contou a religiosa: bateu na porta do
sacrário.
Tão
corajosa!
O
Senhor nos escuta: chamai-O!
«Senhor,
vede isso... vede quanta pobreza, quanta indiferença, quantos há
que desviam o olhar: “Isso não me corresponde, não me importa”
Senhor, por que? Por que, Senhor? Por que eu sou tão fraco e Vós me
chamastes a fazer esse serviço? Ajudai-me, dai-me força, e dai-me
humildade».
O
núcleo da misericórdia é este diálogo com o coração
misericordioso de Jesus.
Amanhã,
teremos a alegria de ver Madre Teresa proclamada santa.
Ela
merece!
Este
testemunho da misericórdia dos nossos tempos se une à fileira
inumerável de homens e mulheres que tornaram visíveis com a sua
santidade o amor de Cristo.
Imitemos
nós também o seu exemplo, e peçamos para ser humildes instrumentos
nas mãos de Deus para aliviar o sofrimento do mundo e dar a alegria
e a esperança da ressurreição.
Obrigado.
E
antes de dar-vos a bênção, convido-vos a rezar todos em silêncio
por tantas, tantas pessoas que sofrem; por tanto sofrimento, por
tantos que vivem descartados pela sociedade.
Rezai
também por tantos voluntários como vós, que vão ao encontro da
carne de Cristo, para tocá-la, cuidá-la, senti-la próxima.
E
rezai ainda por tantos, tantos que diante de tanta miséria desviam o
olhar e no coração escutam uma voz que lhes diz: “Isso não me
corresponde, não me importa”.
Rezemos
em silêncio.
[silêncio]
E
o façamos também junto com Nossa Senhora: Ave Maria...
Papa
Francisco
Fonte:
Santa Sé
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