Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

terça-feira, 13 de setembro de 2016

IGREJA DE SÃO JOÃO DA FOZ – TESOURO DO BARROCO


Situada na Foz Velha
a igreja de São João da Foz é um dos belos exemplares da arte da talha dourada na cidade do Porto
   
   
Nota Histórico-Artística

A necessidade de uma igreja na Foz do Douro fez-se sentir no final do segundo quartel do século XVII, em consequência das obras efectuadas no Forte de São João da Foz, que alteraram o normal funcionamento da igreja matriz situada no seu interior.

Assim, e em 1640, foram doados uns "Palácios", sitos na Foz, ao Mosteiro de Santo Tirso, que imediatamente iniciou a sua adaptação a igreja paroquial, comprometendo-se ainda a custear a construção da capela-mor.
Mais tarde, e de acordo com Magalhães Basto, o corpo da igreja terá sido modificado (BASTO, 1945, pp. 173-190).
No entanto, estas obras, exclusivamente financiadas com os inconstantes rendimentos do couto da Foz, foram muito demoradas - a nova capela-mor, cuja primeira pedra foi lançada entre 1709 e 1712, só se concluiu em 1726/27 (QUARESMA, 1995).

As campanhas arquitectónicas e decorativas sucederam-se durante a primeira metade do século XVIII.
Entre 1713 e 1715 construíram-se os retábulos do Bom Sucesso, do Senhor Jesus, da Senhora do Rosário, e de Santa Gertrudes, dotados das respectivas imagens.
Em 1728 iniciou-se, na igreja, a construção da abóbada, torres, novo frontispício, remate do arco sobre a capela-mor, pátio em frente, e levantamento do coro; obras que estariam concluídas em 1733.

No ano seguinte, 1734, foi assinado o contrato para a realização do retábulo da capela-mor com os mestres entalhadores Manuel da Rocha e Manuel da Costa Andrade, mas sob desenho de Miguel Francisco da Silva, autor dos retábulos das igrejas de Santo Ildefonso e São Francisco, entre outros.
Este deveria estar pronto em 1735.
No entanto, a campanha decorativa prolongou-se e o retábulo foi alterado ao gosto do novo Abade, que acrescentou ainda às obras em curso a construção dos presbitérios e das escadas da capela-mor, tendo mandado executar o altar de pedra de ara e o frontal de talha da capela-mor (QUARESMA, 1995).

Resulta desta extensa campanha uma igreja barroca, de planta longitudinal, nave única, seis capelas colaterais e capela-mor, todas com retábulos de talha dourada.
Na fachada, o portal emoldurado e rematado por frontão circular interrompido é encimado por um nicho onde se exibe a imagem de São João Baptista.
Nos nichos laterais figuraram, outrora, as imagens de São Bento e Santa Escolástica.
O alçado termina em frontão circular e cruz de pedra, ladeado pelas torres sineiras.

Rosário Carvalho


Tesouro Barroco da Foz do Douro

«Já tinha lido em Dostoievski que "a beleza que salva o mundo é o amor que partilha a dor" e tinha aprendido, com os teólogos Karl Rahner, Hans Urs von Balthasar e Joseph Ratzinger, que é a Beleza quem nos salva.

Mas, ainda assim, estava longe de sentir a transformação de quem contempla as obras de arte sacra e as põe a falar, rezando diante delas como ícones do mistério divino.
Talvez soubesse teoricamente, mas não me tinha apercebido da real dimensão teológica e pastoral do património artístico.

Só quando me confiaram a paróquia urbana da Foz do Douro - e nunca tinha sido pároco desde que fui ordenado em 1964 -, onde entrei a 1 de Janeiro de 2006, descobri, no seu riquíssimo e ímpar património artístico, a importância pastoral da beleza.

A preservação e a promoção do património artístico, do asseio ao restauro, a par de cuidada animação litúrgica até à singeleza dos arranjos florais, passando pela valorização dos sinais e dos símbolos, na sua estética e na sua espiritualidade, são uma excelente pedagogia pastoral.

Na Foz do Douro, temo-la ensaiado em comunidade.
Registamos aqui também o inventário possível do seu património móvel e imóvel.
É um modo de o salvaguardar e de o promover com proveito espiritual.

A beleza é comunicativa. As pessoas aprendem a apreciá-la com prazer e a colaborar na sua evidência que tanto esconde como revela o mistério.
O património artístico é sempre novo quando lhe interpretamos as mensagens e os símbolos.

Vivemos num mundo de símbolos e os símbolos vivem em nós.
Diante da arte, ícone do divino e do invisível, valha-nos a atitude de Maria, narrada no Evangelho de S. Lucas (2, 19): "Maria, porém, guardava todos estes factos e meditava-os no seu coração”.
Ou seja, como Mãe e Discípula, compunha no seu coração o divino e o humano, a revelação e a experiência.
Afinal, sempre é verdade que “o essencial é invisível para os olhos, só se vê bem com o coração”, como dizia Antoine de Saint-Exupéry.

O sublime tesouro barroco da Igreja da Foz do Douro é um bom guia estético e espiritual.
Visitem-no e sairão bem mais ricos por dentro, enchendo o coração de beleza.»

Cónego Rui Osório In Tesouro Barroco da Foz do Douro, ed. Paróquia de S.João Baptista da Foz do Douro


É conhecido o percurso do Sr. Cónego Rui Osório, como jornalista, no Jornal de Notícias e na Voz Portucalense onde ainda mantém uma coluna de opinião.

Completou 50 anos de ordenação sacerdotal no dia 2 de Agosto de de 2014 e é actualmente o pároco de São João da Foz.
















Fontes: Direcção-Geral do Património Cultural; Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura; Agencia Ecclesia

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