Situada
na Foz Velha
a
igreja de São João da Foz é um dos belos exemplares da arte da
talha dourada na cidade do Porto
Nota
Histórico-Artística
A
necessidade de uma igreja na Foz do Douro fez-se sentir no final do
segundo quartel do século XVII, em consequência das obras
efectuadas no Forte de São João da Foz, que alteraram o normal
funcionamento da igreja matriz situada no seu interior.
Assim,
e em 1640, foram doados uns "Palácios", sitos na Foz, ao
Mosteiro de Santo Tirso, que imediatamente iniciou a sua adaptação
a igreja paroquial, comprometendo-se ainda a custear a construção
da capela-mor.
Mais
tarde, e de acordo com Magalhães Basto, o corpo da igreja terá sido
modificado (BASTO, 1945, pp. 173-190).
No
entanto, estas obras, exclusivamente financiadas com os inconstantes
rendimentos do couto da Foz, foram muito demoradas - a nova
capela-mor, cuja primeira pedra foi lançada entre 1709 e 1712, só
se concluiu em 1726/27 (QUARESMA,
1995).
As
campanhas arquitectónicas e decorativas sucederam-se durante a
primeira metade do século XVIII.
Entre
1713 e 1715 construíram-se os retábulos do Bom Sucesso, do Senhor
Jesus, da Senhora do Rosário, e de Santa Gertrudes, dotados das
respectivas imagens.
Em
1728 iniciou-se, na igreja, a construção da abóbada, torres, novo
frontispício, remate do arco sobre a capela-mor, pátio em frente, e
levantamento do coro; obras que estariam concluídas em 1733.
No
ano seguinte, 1734, foi assinado o contrato para a realização do
retábulo da capela-mor com os mestres entalhadores Manuel da Rocha e
Manuel da Costa Andrade, mas sob desenho de Miguel Francisco da
Silva, autor dos retábulos das igrejas de Santo Ildefonso e São
Francisco, entre outros.
Este
deveria estar pronto em 1735.
No
entanto, a campanha decorativa prolongou-se e o retábulo foi
alterado ao gosto do novo Abade, que acrescentou ainda às obras em
curso a construção dos presbitérios e das escadas da capela-mor,
tendo mandado executar o altar de pedra de ara e o frontal de talha
da capela-mor (QUARESMA,
1995).
Resulta
desta extensa campanha uma igreja barroca, de planta longitudinal,
nave única, seis capelas colaterais e capela-mor, todas com
retábulos de talha dourada.
Na
fachada, o portal emoldurado e rematado por frontão circular
interrompido é encimado por um nicho onde se exibe a imagem de São
João Baptista.
Nos nichos laterais figuraram, outrora, as imagens de
São Bento e Santa Escolástica.
O
alçado termina em frontão circular e cruz de pedra, ladeado pelas
torres sineiras.
Rosário
Carvalho
Tesouro
Barroco da Foz do Douro
«Já
tinha lido em Dostoievski que "a
beleza que salva o mundo é o amor que partilha a dor"
e tinha aprendido, com os teólogos Karl Rahner, Hans Urs von
Balthasar e Joseph Ratzinger, que é a Beleza quem nos salva.
Mas,
ainda assim, estava longe de sentir a transformação de quem
contempla as obras de arte sacra e as põe a falar, rezando diante
delas como ícones do mistério divino.
Talvez
soubesse teoricamente, mas não me tinha apercebido da real dimensão
teológica e pastoral do património artístico.
Só
quando me confiaram a paróquia urbana da Foz do Douro - e nunca
tinha sido pároco desde que fui ordenado em 1964 -, onde entrei a 1
de Janeiro de 2006, descobri, no seu riquíssimo e ímpar património
artístico, a importância pastoral da beleza.
A
preservação e a promoção do património artístico, do asseio ao
restauro, a par de cuidada animação litúrgica até à singeleza
dos arranjos florais, passando pela valorização dos sinais e dos
símbolos, na sua estética e na sua espiritualidade, são uma
excelente pedagogia pastoral.
Na
Foz do Douro, temo-la ensaiado em comunidade.
Registamos
aqui também o inventário possível do seu património móvel e
imóvel.
É
um modo de o salvaguardar e de o promover com proveito espiritual.
A
beleza é comunicativa. As pessoas aprendem a apreciá-la com prazer
e a colaborar na sua evidência que tanto esconde como revela o
mistério.
O
património artístico é sempre novo quando lhe interpretamos as
mensagens e os símbolos.
Vivemos
num mundo de símbolos e os símbolos vivem em nós.
Diante
da arte, ícone do divino e do invisível, valha-nos a atitude de
Maria, narrada no Evangelho de S. Lucas (2, 19): "Maria, porém,
guardava todos estes factos e meditava-os no seu coração”.
Ou
seja, como Mãe e Discípula, compunha no seu coração o divino e o
humano, a revelação e a experiência.
Afinal,
sempre é verdade que “o essencial é invisível para os olhos, só
se vê bem com o coração”, como dizia Antoine de Saint-Exupéry.
O
sublime tesouro barroco da Igreja da Foz do Douro é um bom guia
estético e espiritual.
Visitem-no
e sairão bem mais ricos por dentro, enchendo o coração de beleza.»
Cónego
Rui Osório In Tesouro Barroco da Foz do Douro, ed. Paróquia de
S.João Baptista da Foz do Douro
É
conhecido o percurso do Sr. Cónego Rui Osório, como jornalista, no
Jornal de Notícias e na Voz Portucalense onde ainda mantém uma
coluna de opinião.
Completou
50 anos de ordenação sacerdotal no dia 2 de Agosto de de 2014 e é
actualmente o pároco de São João da Foz.
Fontes:
Direcção-Geral do Património Cultural; Secretariado Nacional da
Pastoral da Cultura; Agencia Ecclesia
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