Espero
vivamente que se instaure uma nova cooperação social e económica,
livre de condicionalismos ideológicos, que saiba encarar o mundo
globalizado, mantendo vivo o sentimento de solidariedade e caridade
mútua que tanto caracterizou o rosto da Europa.
...
E
há tantos [pobres] nas nossas estradas! Pedem não só o pão para
se sustentarem, que é o mais elementar dos direitos, mas também
para se redescobrir o valor da sua vida, que a pobreza tende a fazer
esquecer, e reencontrar a dignidade conferida pelo trabalho.
Afirmou
o Papa Francisco no seu discurso, esta tarde, ao Conselho da Europa.
Senhor
Secretário-Geral, Senhora Presidente,
Excelências,
Senhoras e Senhores!
Sinto-me
feliz por poder tomar a palavra nesta Sessão que vê reunida uma
representação significativa da Assembleia Parlamentar do Conselho
da Europa, os representantes dos países membros, os juízes do
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, bem como as diferentes
instituições que compõem o Conselho da Europa. De facto, quase
toda a Europa está aqui presente, com os seus povos, as suas
línguas, as suas expressões culturais e religiosas, que constituem
a riqueza deste Continente. De modo particular agradeço ao Senhor
Secretário-Geral do Conselho da Europa, Senhor Thorbjørn Jagland, o
convite gentil e as amáveis palavras de boas-vindas que me dirigiu.
Saúdo também a Senhora Anne Brasseur, Presidente da Assembleia
Parlamentar. De coração agradeço a todos o empenhamento profuso e
a contribuição prestada à paz na Europa através da promoção da
democracia, dos direitos humanos e do estado de direito.
Na
intenção de seus Pais fundadores, o Conselho da Europa –que
celebra este ano o seu sexagésimo quinto aniversário – dava
resposta àquela tensão ideal para a unidade que tem animado,
repetidamente, a vida do Continente desde a antiguidade. Ao longo dos
séculos, porém, muitas vezes prevaleceram ímpetos particularistas
conotados com as diversas vontades hegemónicas que se iam sucedendo.
Basta pensar que dez anos antes daquele 5 de Maio de 1949, quando se
assinou em Londres o Tratado que instituía o Conselho da Europa,
tivera início o mais sangrento e dilacerante conflito que estas
terras recordam e cujas divisões perduraram por muitos anos
sucessivos com a chamada cortina de ferro que dividia em dois o
Continente desde o Mar Báltico até ao Golfo de Trieste. O projecto
dos Pais fundadores era reconstruir a Europa num espírito de mútuo
serviço, que ainda hoje, num mundo mais inclinado a reivindicar do
que a servir, deve constituir o fecho da abóbada da missão do
Conselho da Europa em favor da paz, da liberdade e da dignidade
humana.
Aliás
o caminho privilegiado para a paz – para evitar que volte a
acontecer o que sucedeu nas duas guerras mundiais do século passado
– é reconhecer no outro, não um inimigo a combater, mas um irmão
a acolher. Trata-se de um processo contínuo, que não se pode jamais
dar como plenamente alcançado. Isto mesmo intuíram os Pais
fundadores quando compreenderam que a paz era um bem que se devia
conquistar continuamente e exigia uma vigilância absoluta. Estavam
cientes de que as guerras se alimentam da vontade de apoderar-se dos
espaços, cristalizar os processos que avançam e procurar detê-los;
eles, ao invés, procuravam a paz, que se pode realizar apenas com a
constante disposição de iniciar processos e levá-los por diante.
Afirmavam,
assim, a vontade de caminhar maturando no tempo, porque é
precisamente o tempo que governa os espaços, iluminando-os e
transformando-os numa cadeia de crescimento contínuo que não volta
atrás. Por isso, a construção da paz exige privilegiar as acções
que geram novos dinamismos na sociedade e envolvem outras pessoas e
grupos que hão-de desenvolvê-los até frutificar em importantes
acontecimentos históricos.
Foi
por esta razão que eles deram vida a este Organismo estável. Como
recordava alguns anos depois o Beato Paulo VI, «as próprias
instituições que, na ordem jurídica e no concerto internacional,
têm a função e o mérito de proclamar e de conservar a paz,
alcançam o seu próvido objectivo se estiverem a operar
continuamente, se souberem a cada momento gerar a paz, fazer a paz».
É preciso um caminho constante de humanização, pelo que «não
basta conter a guerra, suspender as lutas, (...) não basta uma Paz
imposta, uma Paz utilitária e provisória. É necessário tender
para uma Paz amada, livre e fraterna, isto é, fundada sobre a
reconciliação dos espíritos». Por outras palavras, é preciso
levar por diante os processos sem ansiedade, mas certamente com
convicções claras e tenacidade.
Para
conquistar o bem da paz é preciso, antes de mais nada, educar para
ela, desterrando uma cultura do conflito que visa amedrontar o outro,
marginalizar quem pensa ou vive de forma diferente. É verdade que o
conflito não pode ser ignorado ou dissimulado; deve ser aceitado.
Mas, se ficamos bloqueados nele, perde-se perspectiva, os horizontes
reduzem-se e a própria realidade fica fragmentada. Quando estagnamos
na situação de conflito, perdemos o sentido da unidade profunda da
realidade, paramos a história e caímos no desgaste interior de
contradições estéreis.
Infelizmente,
a paz é ferida ainda muitas vezes. Isto é verdade em muitas partes
do mundo, onde enfurecem conflitos de diverso género. É verdade
também aqui na Europa, onde não cessam as tensões. Quanto
sofrimento e quantos mortos há ainda neste Continente, que anseia
pela paz e contudo volta facilmente a cair nas tentações de
outrora! Por isso, é importante e encorajador o trabalho do Conselho
da Europa na busca de uma solução política para as crises em acto.
Mas
a paz é posta à prova também por outras formas de conflito, como o
terrorismo religioso e internacional que nutre profundo desprezo pela
vida humana e ceifa, de forma indiscriminada, vítimas inocentes.
Infelizmente este fenómeno é alimentado por um tráfico de armas,
muitas vezes sem qualquer entrave. A Igreja considera que «a corrida
aos armamentos é um terrível flagelo para a humanidade e prejudica
os pobres de uma forma intolerável». A paz é violada também pelo
tráfico de seres humanos, a nova escravatura do nosso tempo que
transforma as pessoas em mercadoria de troca, privando as vítimas de
toda a dignidade. Depois, não raro damo-nos conta de como estão
interligados estes fenómenos. O Conselho da Europa, através das
suas Comissões e grupos de peritos, desempenha um papel importante e
significativo no combate a tais formas de desumanidade.
A
paz, porém, não é a simples ausência de guerras, conflitos e
tensões. Na óptica cristã, é simultaneamente dom de Deus e fruto
da acção livre e racional do homem, que se propõe perseguir o bem
comum na verdade e no amor. «Esta ordem racional e moral assenta
precisamente na decisão da consciência dos seres humanos de buscar
a harmonia nas suas relações recíprocas sobre a base do respeito
da justiça para todos».
Então
como perseguir este ambicioso objectivo da paz?
A
estrada escolhida pelo Conselho da Europa é, antes de mais nada, a
promoção dos direitos humanos, a que se liga o desenvolvimento da
democracia e do estado de direito. É um trabalho particularmente
precioso, com notáveis implicações éticas e sociais, já que, de
um recto entendimento destes termos e de uma reflexão constante
sobre eles, depende o desenvolvimento das nossas sociedades, a sua
pacífica convivência e o seu futuro. Este estudo é uma das grandes
contribuições que a Europa ofereceu e continua a oferecer ao mundo
inteiro.
Por
isso, nesta sede, sinto o dever de lembrar a importância da
contribuição e responsabilidade europeias para o desenvolvimento
cultural da humanidade. E gostaria de o fazer partindo de uma imagem
que tomo dum poeta italiano do século XX, Clemente Rebora, que, numa
das suas poesias, descreve um álamo com os seus ramos erguidos para
o céu e movidos pelo vento, o seu tronco sólido e firme e as raízes
profundas que penetram na terra. Em certo sentido podemos, à luz
desta imagem, imaginar a Europa.
Ao
longo da sua história, sempre se ergueu para o alto, para metas
novas e ambiciosas, animada por um desejo insaciável de
conhecimento, desenvolvimento, progresso, paz e unidade. Mas a
elevação do pensamento, da cultura, das descobertas científicas só
é possível graças à solidez do tronco e à profundidade das
raízes que o alimentam. Se se perdem as raízes, o tronco lentamente
se esvai e morre, e os ramos – antes vigorosos e direitos –
dobram-se para a terra e caem. Aqui está talvez um dos paradoxos
mais incompreensíveis para uma mentalidade científica isolada: para
caminhar para o futuro serve o passado, são necessárias raízes
profundas e serve também a coragem de não se esconder face ao
presente e seus desafios. Servem memória, coragem e utopia sadia e
humana.
Entretanto
– observa Rebora - «o tronco penetra onde é mais verdadeiro». As
raízes nutrem-se da verdade, que constitui o alimento, a seiva vital
de toda e qualquer sociedade que queira ser verdadeiramente livre,
humana e solidária. Por outro lado, a verdade faz apelo à
consciência, que é irredutível aos condicionamentos e, por
isso, é capaz de conhecer a sua própria dignidade e de se abrir ao
absoluto, tornando-se fonte das opções fundamentais guiadas pela
procura do bem para os outros e para si mesma e lugar duma liberdade
responsável.
Além
disso, é preciso ter presente que, sem esta busca da verdade, cada
um torna-se medida de si mesmo e do seu próprio agir, abrindo a
estrada à afirmação subjectivista dos direitos, de tal modo que o
conceito de direito humano, que de per si tem valência universal, é
substituído pela ideia de direito individualista. Isto leva a ser
substancialmente descuidado para com os outros e favorecer a
globalização da indiferença, que nasce do egoísmo, fruto
duma concepção do homem incapaz de acolher a verdade e viver uma
autêntica dimensão social.
Um
tal individualismo torna-nos humanamente pobres e culturalmente
estéreis, porque corta realmente aquelas raízes fecundas sobre as
quais se enxerta a árvore. Do individualismo indiferente nasce o
culto da opulência, a que corresponde a cultura do descarte onde
estamos imersos. Na realidade, temos demasiadas coisas, muitas vezes
desnecessárias, mas já não somos capazes de construir relações
humanas autênticas, caracterizadas pela verdade e o respeito mútuo.
E assim temos hoje diante dos olhos a imagem duma Europa ferida pelas
inúmeras provações do passado, mas também pelas crises do
presente que parece incapaz de enfrentar com a vitalidade e energia
de outrora; uma Europa um pouco cansada, pessimista, que se sente
assediada pelas novidades provenientes dos outros Continentes.
À
Europa, podemos perguntar: Onde está o teu vigor? Onde está aquela
tensão ideal que animou e fez grande a tua história? Onde está o
teu espírito de curiosidade e empreendimento? Onde está a tua sede
de verdade, que comunicaste com paixão ao mundo até agora?
Da
resposta a estas perguntas dependerá o futuro do Continente. Aliás,
voltando à imagem de Rebora, um tronco sem raízes pode continuar a
ter aparência de vida, mas por dentro esvai-se e morre. A Europa
deve reflectir se o seu imenso património humano, artístico,
técnico, social, político, económico e religioso é um simples
legado de museu do passado, ou se ainda é capaz de inspirar a
cultura e descerrar os seus tesouros à humanidade inteira. Na
resposta a esta questão, tem um papel de primária importância o
Conselho da Europa, com as suas instituições.
Penso
particularmente no papel do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem,
que constitui de certo modo a «consciência» da Europa no respeito
dos direitos humanos. A minha esperança é que esta consciência
mature cada vez mais, não por um mero consenso entre as partes, mas
como fruto da tensão para aquelas raízes profundas que constituem
os alicerces sobre os quais escolheram edificar os Pais fundadores da
Europa contemporânea.
Juntamente
com as raízes – que é preciso procurar, encontrar e manter vivas
com o exercício diário da memória, pois constituem o património
genético da Europa –, existem os actuais desafios do Continente
que nos obrigam a uma criatividade contínua, para que estas raízes
sejam fecundas nos dias de hoje e se projectem para as utopias do
futuro. Permitam-me mencionar dois apenas: o desafio da
multipolaridade e o da transversalidade.
A
história da Europa pode levar-nos a concebê-la ingenuamente como
uma bipolaridade ou, no máximo, um tripolaridade (pensemos na antiga
concepção: Roma - Bizâncio - Moscovo) e, dentro deste esquema
fruto de reducionismos geopolíticos hegemónicos, movermo-nos na
interpretação do presente e na projecção para a utopia do futuro.
Hoje
as coisas não estão assim e podemos, legitimamente, falar de uma
Europa multipolar. As tensões – tanto aquelas que constroem como
as que desagregam – verificam-se entre múltiplos pólos culturais,
religiosos e políticos. Hoje, a Europa enfrenta o desafio de
«globalizar» mas de forma original esta multipolaridade. As
culturas não se identificam necessariamente com os países: alguns
deles têm várias culturas, e algumas culturas exprimem-se em vários
países. E o mesmo acontece com as expressões políticas, religiosas
e associativas.
Globalizar
de forma original – e sublinho isto: de forma original – a
multipolaridade implica o desafio de uma harmonia construtiva, livre
de hegemonias que, embora pragmaticamente pareçam facilitar o
caminho, acabam por destruir a originalidade cultural e religiosa dos
povos.
Falar
da multipolaridade europeia significa falar de povos que nascem,
crescem e se projectam para o futuro. A tarefa de globalizar a
multipolaridade da Europa não a podemos imaginar com a figura da
esfera – onde tudo é igual e ordenado, mas redutora porque cada
ponto é equidistante do centro –, mas sim com a do poliedro,
onde a unidade harmoniosa do todo conserva a singularidade de cada
uma das partes. Hoje, a Europa é multipolar nas suas relações e
tensões; não se pode pensar nem construir a Europa sem assumir
profundamente esta realidade multipolar.
O
outro desafio que gostaria de mencionar é a transversalidade.
Parto duma experiência pessoal: nos encontros com os políticos de
vários países da Europa, pude notar que os políticos jovens
encaram a realidade duma perspectiva diferente da dos seus colegas
mais idosos. Talvez digam coisas aparentemente semelhantes, mas a
abordagem é diferente. As palavras são semelhantes, mas a música é
diferente. Isto verifica-se nos jovens políticos dos diferentes
partidos. Este dado empírico indica uma realidade da Europa actual,
de que não se pode prescindir no caminho da consolidação do
Continente e da sua projecção futura: ter em conta esta
transversalidade que se observa em todas as áreas. Isto não
se pode conseguir sem recorrer ao diálogo, nomeadamente
intergeracional. Se hoje quiséssemos definir o Continente,
deveríamos falar duma Europa dialogante que faz com que a
transversalidade de opiniões e reflexões esteja ao serviço dos
povos harmoniosamente unidos.
Assumir
este caminho de comunicação transversal implica não só empatia
geracional, mas também metodologia histórica de crescimento. No
mundo político actual da Europa, resulta estéril o diálogo
circunscrito apenas aos organismos (políticos, religiosos,
culturais) a que se pertence. Hoje, a história pede a capacidade de
sair para o encontro a partir das estruturas que «contêm» a
própria identidade a fim de a tornar mais forte e mais fecunda no
confronto fraterno da transversalidade. Uma Europa que dialogue
apenas dentro dos grupos fechados a que se pertence fica a meia
estrada; há necessidade do espírito juvenil que aceite o desafio da
transversalidade.
Nesta
perspectiva, congratulo-me com a vontade do Conselho da Europa de
investir no diálogo intercultural, incluindo a sua dimensão
religiosa, através dos Encontros sobre a dimensão religiosa do
diálogo intercultural. Trata-se de uma ocasião profícua para
um intercâmbio aberto, respeitoso e enriquecedor entre pessoas e
grupos de diferente origem, tradição étnica, linguística e
religiosa, num espírito de compreensão e respeito mútuo.
Tais
encontros parecem ser particularmente importantes no actual ambiente
multicultural, multipolar, em busca de um rosto próprio para
conjugar, sapientemente, a identidade europeia formada ao longo dos
séculos com as solicitações que chegam dos outros povos que agora
assomam ao Continente.
Nesta
lógica, se deve entender a contribuição que o cristianismo pode
proporcionar, actualmente, ao desenvolvimento cultural e social
europeu no âmbito duma correcta relação entre religião e
sociedade. Na óptica cristã, razão e fé, religião e sociedade
são chamadas a iluminar-se reciprocamente, apoiando-se uma à outra
e, se necessário, purificando-se mutuamente dos extremismos
ideológicos em que podem cair. A sociedade europeia inteira só pode
beneficiar de uma revitalizada conexão entre os dois âmbitos, tanto
para enfrentar um fundamentalismo religioso que é inimigo sobretudo
de Deus, como para obstar a uma razão «reduzida» que não honra o
homem.
Estou
convencido de que pode haver mútuo enriquecimento num grande número
de temas actuais, em que a Igreja Católica – especialmente através
do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) – pode
colaborar com o Conselho da Europa e prestar uma contribuição
fundamental. Em primeiro lugar, à luz do que disse anteriormente,
temos o âmbito duma reflexão ética sobre os direitos humanos,
acerca dos quais muitas vezes a vossa Organização é chamada a
reflectir. Penso, em particular, nos temas relacionados com a
protecção da vida humana, questões sensíveis que precisam de ser
submetidas a um exame cuidadoso que tenha em conta a verdade do ser
humano integral, sem se limitar a específicos âmbitos médicos,
científicos ou jurídicos.
De
igual modo são numerosos os desafios do mundo contemporâneo que
necessitam de estudo e de um empenhamento comum, a começar pelo
acolhimento dos imigrantes, que precisam primariamente do essencial
para viver, mas sobretudo que lhes seja reconhecida a sua dignidade
de pessoas. Temos depois o grave problema do trabalho em toda a sua
amplitude, especialmente pelos altos níveis de desemprego juvenil
que se registam em muitos países – uma real hipoteca que grava
sobre o futuro – mas também pela questão da dignidade do
trabalho.
Espero
vivamente que se instaure uma nova cooperação social e económica,
livre de condicionalismos ideológicos, que saiba encarar o mundo
globalizado, mantendo vivo o sentimento de solidariedade e caridade
mútua que tanto caracterizou o rosto da Europa, graças à obra
generosa de centenas de homens e mulheres – alguns considerados
Santos pela Igreja Católica – que, ao longo dos séculos, se
esforçaram por desenvolver o Continente seja através da actividade
empresarial seja com obras de educação, de assistência e de
promoção humana. Especialmente estas últimas constituem um
importante ponto de referência para os numerosos pobres que vivem na
Europa. E há tantos nas nossas estradas! Pedem não só o pão para
se sustentarem, que é o mais elementar dos direitos, mas também
para se redescobrir o valor da sua vida, que a pobreza tende a fazer
esquecer, e reencontrar a dignidade conferida pelo trabalho.
Por
fim, entre os temas que requerem a nossa reflexão e a nossa
colaboração, temos a defesa do meio ambiente, desta nossa amada
Terra, o grande recurso que Deus nos deu e está à nossa disposição,
não para ser deturpada, explorada e vilipendiada, mas para que,
gozando da sua beleza imensa, possamos viver com dignidade.
Senhor
Secretário, Senhora Presidente, Excelências, Senhoras e Senhores!
O
Beato Paulo VI definiu a Igreja «perita em humanidade». No mundo, à
imitação de Cristo, ela – apesar dos pecados dos seus filhos –
nada mais procura que servir e dar testemunho da verdade. Nada mais,
à excepção deste espírito, nos guia no apoio dado ao caminho da
humanidade.
Com
esta disposição de espírito, a Santa Sé pretende continuar a
colaborar com o Conselho da Europa, que desempenha actualmente um
papel fundamental para forjar a mentalidade das futuras gerações de
europeus. Trata-se de realizar, juntos, uma reflexão a todo o campo,
para que se estabeleça uma espécie de «nova ágora», na
qual cada instância civil e religiosa possa livremente confrontar-se
com as outras, naturalmente na separação dos âmbitos e na
diversidade das posições, animada exclusivamente pelo desejo de
verdade e de construir o bem comum. De facto, a cultura
nasce sempre do encontro mútuo, tendente a estimular a riqueza
intelectual e a criatividade de quantos nele participam; além de ser
a actuação do bem, isto é beleza. Os meus votos à Europa são de
que, redescobrindo o seu património histórico e a profundidade das
suas raízes, assumindo a sua viva multipolaridade e o
fenómeno da transversalidade dialogante, encontre novamente
aquela juventude de espírito que a tornou fecunda e grande.
Obrigado!
Visita
do Papa Francisco ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa
DISCURSO
DO SANTO PADRE AO CONSELHO DA EUROPA
Estrasburgo,
França
Terça-feira,
25 de Novembro de 2014
Fonte:
Santa Sé
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