Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

domingo, 22 de novembro de 2015

A MÁSCARA DO MEDO

Octávio Carmo




Há muitos momentos em que as palavras sobram e, diante da violência que se vai multiplicando em tantas partes do mundo, é justo dizer-se que são mesmo aquilo de que menos precisamos neste momento
   
   
Naturalmente, ficamos mais aturdidos quando essa violência terrorista nos bate à porta - lá longe isso é “costume” e acabamos por habituar-nos -, mas uma resposta global ao fundamentalismo e à radicalização ideológica, que usa a religião como justificação para o seu anseio de domínio e sede de morte, exige que olhemos com atenção para todos os pontos do globo.

Desde logo, colocando o dedo na ferida como tem feito o Papa Francisco: quem lucra com a venda das armas que se multiplicam nas mãos de guerrilheiros, exércitos ao serviço de ditaduras, terroristas e lunáticos onde menos se esperaria?
Como é que podemos assistir impavidamente a este longo arrastar de conflitos armados que vão saltando de um lado para o outro, caindo no esquecimento, naquilo a que o Papa chama III Guerra Mundial aos bocados?

Sim, o terrorismo chegou ao coração da Europa.
Não teria sido necessário esperar por isso para despertarmos para esta triste realidade, mas agora não adianta discutir isso.
O que é que vamos fazer a seguir?
É justo dizer que na origem do problema está apenas a dificuldade de integração de gerações juvenis cuja identidade não está bem definida?
É difícil exigir a quem reside num país ocidental que respeite a sua Constituição como primeira referência, acima de qualquer ordenamento jurídico de inspiração religiosa, evitando assim a construção de comunidades paralelas?
Demora muito a exigência de reciprocidade na relação entre países, quando está em causa a garantia da liberdade religiosa, independentemente do credo professado?

Há muito para reflectir e para decidir nos próximos tempos.
Da Síria, há não muito tempo, recebíamos queixas de responsáveis cristãos, espantados com a chegada de jovens europeus para combater pelo auto-proclamado ‘Estado Islâmico’.
É, de facto, altamente perturbador que uma civilização ancestral tenha perdido a capacidade de cativar as novas gerações com os seus valores fundamentais, a começar pelo mais elementar, o respeito pela vida humana, igual em dignidade independentemente de raças ou religiões.
O primeiro passo é recuperar esses valores, professá-los publicamente e sem hesitações, deixar cair a máscara do medo.
A força militar até poderá ganhar o presente, mas só a força moral pode conquistar um futuro de paz.

Octávio Carmo


Fonte: Editorial da Agência Ecclesia, 20 de Novembro de 2015


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