Paróquia de S. Cristóvão do Muro

Vigararia Trofa/Vila do Conde
Diocese do Porto - Portugal

domingo, 24 de maio de 2020

“LAUDATO SI”: ENCÍCLICA PARA OLHAR O FUTURO DEPOIS DA PANDEMIA



Andrea Tornielli


Há cinco anos, o Papa assinou um documento que representa um novo passo da Doutrina Social da Igreja e um roteiro para construir sociedades mais justas, capazes de proteger a vida humana e toda a Criação
 
   

Comemorar cinco anos da “Laudato si” não é uma celebração ritual.
A semana e, depois, o ano dedicado à encíclica, representam uma espécie de verificação para colectar iniciativas, ideias, experiências e boas práticas; são uma maneira de compartilhar o que o documento suscitou em comunidades, territórios e em todo o mundo; são uma ocasião para reflectir sobre a sua actualidade, no momento presente, enquanto o mundo inteiro luta contra a pandemia da Covid-19.

Um dos méritos do amplo texto papal, que parte dos fundamentos da relação entre as criaturas e o Criador, é ter-nos feito entender que tudo está em conexão: não há questão ambiental separada da social; mudanças climáticas, migração, guerras, pobreza e subdesenvolvimento são expressões de uma única crise, que, antes de ser ecológica, é, no fundo, crise ética, cultural e espiritual.
Trata-se de um olhar profundamente realista.
Laudato si” não nasce da saudade, que faz atrasar o relógio da história para nos levar de volta às formas de vida pré-industriais, mas individualiza e descreve os processos de autodestruição, desencadeados pela busca do lucro imediato e do mercado divinizado.
A raiz do problema ecológico, - escreve o Papa Francisco, - consiste precisamente no facto de que "existe uma maneira de entender a vida e a acção humanas, que é desviado e contradiz a realidade, a ponto de arruiná-la".

Partir de novo da realidade significa defrontar com a objectividade da condição humana, partindo do reconhecimento da limitação do mundo e dos seus recursos; significa manter distância da confiança cega, representada pelo "paradigma tecnocrático", que, afirma o Papa, seguindo o pensamento de Romano Guardini, "acabou colocando a razão técnica acima da realidade, a ponto de não sentir mais a natureza, nem como uma norma válida e nem como abrigo vivo".
A intervenção do homem sobre a natureza, - lemos ainda na encíclica, - "sempre existiu, mas, por muito tempo, teve a característica de acompanhar e seguir as possibilidades oferecidas pelas próprias coisas. Tratava-se de receber o que a realidade natural permitia, como estender a mão. Por outro lado, o que nos interessa agora é extrair o máximo possível das coisas, mediante a imposição da mão humana, que tende ignorar ou esquecer a própria realidade da qual se depara".
Por isso, "chegou a hora de prestar novamente atenção à realidade, com suas limitações, que, por sua vez, constituem a possibilidade de um desenvolvimento humano e social mais saudável e fecundo".

A crise que estamos a enfrentar, por causa da pandemia, tornou tudo isso ainda mais evidente: "Avançamos com toda velocidade - disse o Papa, em 27 de Março passado, durante a “Statio Orbis” – sentindo-nos fortes e capazes de fazer tudo. Ávidos pela ganância, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa... não nos despertamos diante de guerras e injustiças planetárias; não demos ouvidos ao clamor dos pobres e do nosso planeta, gravemente doente. Continuamos impávidos, pensando de permanecer sempre saudáveis num mundo doentio".
Durante aquele intenso momento de oração, para invocar o fim da pandemia, que nos fez perceber quanto somos frágeis e indefesos, Francisco recordou ainda que somos chamados a "assumir este tempo de provação como um momento de escolha ... um tempo para discernir o que conta e o que passa, e separar o que é necessário do que não é”.
Laudato si” é um guia para que possamos reconsiderar as sociedades, onde a vida humana, sobretudo a dos mais indefesos, seja defendida; onde todos tenham acesso aos tratamentos; onde as pessoas jamais sejam descartadas e a natureza não seja saqueada indiscriminadamente, mas cultivada e preservada pelas gerações futuras.

Andrea Tornielli
(Director Editorial do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé)



Fonte: Notícias do Vaticano


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